LUGAR À OPINIÃO

11.11.2008 – 16h20 Aires Almeida *

“O facto de os cidadãos estarem em geral dispostos a recorrer à desobediência civil justificada é um elemento de estabilidade numa sociedade bem ordenada, ou seja, quase justa”

John Rawls, Uma Teoria da Justiça

Tenho 48 anos e sou professor do ensino secundário há quase 26. Sou professor titular de Filosofia, não estou sindicalizado, não me recordo de ter faltado ao trabalho, mesmo em dias de greve, e não costumo participar em manifestações – nem sequer participei nas duas últimas grandes manifestações de professores, se bem que tenha pena de não o ter podido fazer. Nunca me passou pela cabeça ter outra actividade profissional, mesmo ganhando mais do que os 1850 euros que, após todos estes anos, recebo no final do mês.

Sei que para ensinar bem os meus alunos tenho de continuar a estudar, a ler e a aprender. Como costuma dizer um amigo meu, Desidério Murcho, para se ensinar bem até à letra C é preciso dominar as matérias até pelo menos à letra M: é preciso um grande à vontade e um bom domínio do que se ensina para se antecipar dificuldades dos alunos, para se responder a dúvidas inesperadas, para se encontrar o exemplo certeiro, para indicar as leituras adequadas, etc. Isto exige uma grande preparação e uma actualização permanente do professor, além de um ambiente de trabalho tranquilo e estimulante. Até porque são as deficiências científicas que originam, na maior parte da vezes, as situações pedagogicamente mais desagradáveis.

Infelizmente, os escassos estímulos que ainda poderiam existir nesse sentido parecem pertencer ao passado. As escolas transformaram-se, de há dois anos para cá, numa balbúrdia constante e num verdadeiro pesadelo burocrático em que ninguém parece entender-se. E, com muita tristeza minha, vejo os livros de filosofia que todas as semanas encomendo na Amazon ou outras livrarias acumular-se sem quase ter tempo para os folhear. Preparar aulas decentemente é algo que também deixei de fazer, caso contrário nem sequer vida familiar poderia ter. Não fosse o caso de os alunos estudarem por um manual que conheço de cor – porque sou um dos seus autores – e as aulas seriam um completo improviso. Comparar o que se tem passado nas escolas nos últimos dois anos com a barafunda gerada com o atraso da colocação de professores no tempo do ministro David Justino é como comparar um episódio infeliz com a própria infelicidade. E o ministro David Justino caiu por causa disso.

Creio poder dizer, sem qualquer exagero nem arrogância, que conheço melhor do que a senhora ministra o que se passa nas escolas, pois há 25 anos que passo a maior parte da minha vida nelas. Ora, nunca, mas mesmo nunca, houve tanta confusão e um ambiente tão pouco adequado ao ensino e à aprendizagem como o que se verifica actualmente.

Perguntar-se-á: o que ando então a fazer o tempo todo para deixar de preparar as minhas aulas como deve ser? A resposta poderia ser dada até pelo meu filho, apesar de ainda ser criança: além das aulas, passo os dias em reuniões intermináveis para entender o sentido do terrorismo legislativo com que se tolhem e intimidam os professores. Na verdade são muito mais as horas que tenho gasto a reunir por causa da avaliação do que com aulas. E o pior ainda nem sequer chegou. Como avaliador de oito colegas, terei de inventar mais 36 horas para assistir a aulas suas, além das reuniões preparatórias que tenho de fazer com cada um deles e dos quilos de papelada para preencher. De resto, na minha escola os professores irão passar o ano a assistir às aulas uns dos outros, pois somos 165 professores, o que dá cerca de 500 aulas assistidas por ano. Além disso, terei de preparar tudo para o meu avaliador – um colega de Economia que não tem culpa de nada e que fará certamente o seu melhor – poder assistir às minhas aulas de Filosofia.

Que o novo modelo de avaliação é inútil e ineficaz já o provou definitivamente, sem o querer, a senhora ministra. Diz ela repetidamente que esta avaliação é absolutamente necessária para a qualidade do ensino e para a melhoria dos resultados. Porém, anunciou com grande pompa ao país que os resultados melhoraram no último ano, o que acabou por ser reforçado com a divulgação dos resultados dos exames nacionais. Só que esta apregoada melhoria da qualidade e dos resultados verificou-se ainda antes de o modelo de avaliação produzir qualquer efeito. Logo, fica provado que a avaliação não é uma condição necessária para a melhoria da qualidade e dos resultados. O que leva então a ministra a dizer que a avaliação é absolutamente necessária?

Os responsáveis pelo actual ministério da educação parecem, talvez inconscientemente, querer pôr em prática o cenário tenebroso descrito por George Orwell em “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”, em que a catadupa de despachos, decretos regulamentares, documentos orientadores, ordens de serviço, instruções superiores, recomendações, etc., frequentemente incoerentes – vale a pena dizer que acumulo em casa mais de mil fotocópias sobre avaliação, que me foram entregues na escola –, são a tradução quase literal do “Big Brother is watching you” da 5 de Outubro. A obsessão do ministério por controlar tudo e todos até ao mais pequeno detalhe está bem patente no modelo de fichas de avaliação que impõe às escolas e aos professores (parece que a ideia é a de que, entre tanta coisa pedagogicamente inane, sempre há-de haver uns quantos aspectos em que o avaliado vai falhar, de modo a não atrapalhar as escassas cotas disponíveis para progressão na carreira). E o mais irónico é que, quando se encontram incoerências e impasses nas instruções oriundas do ministério, a ministra deixa o problema para as próprias escolas com o argumento de que lhes quer dar autonomia na construção dos seus instrumentos de avaliação. Não é, pois, surpreendente que os professores se sintam desorientados, cansados, chantageados e até insultados. Isso acaba naturalmente por se reflectir na sua prática lectiva e os alunos notam bem a diferença quando o professor dá as aulas cansado.

Mas o pior de tudo é que o modelo de avaliação fabricado na 5 de Outubro não vai permitir distinguir os bons dos maus professores, ao contrário do que a senhora ministra alega. Talvez seja até pior do que a completa ausência de avaliação, premiando arbitrariamente alguns dos maus e castigando cegamente muitos dos bons. Se assim não fosse, que razões teriam os bons professores que desfilaram na manifestação de sábado para lá estarem? Ou será que os mais de cem mil são todos maus ou simplesmente estúpidos? Os professores sentem-se compreensivelmente ameaçados porque o modelo, além de burocrático, como convém ao Big Brother, obedece a uma espécie de pensamento único pedagógico: há um dogma pedagógico subjacente a que todos têm de aderir, tal como se emanasse do Ministério da Verdade orwelliano. Esse dogma é o da pedagogia do eduquês: são os resultados a qualquer preço, é a inovação a martelo, são as “estratégias de ensino-aprendizagem” como se o professor fosse o aprendiz (também o é, mas noutro sentido). Enfim, é a avaliação do portfólio e dossiê do professor para ver se ele tem o seu caderno diário em ordem, infantilizando uma actividade em que, pelo contrário, se exige autonomia e auto-confiança.

De resto, não é preciso muita atenção para ser confrontado com essa novilíngua do eduquês que, de há muitos anos para cá, tem caracterizado o Ministério da Verdade. Só que agora passou a ter uma força imparável, pois vai ser a destreza no uso dessa novilíngua a determinar se o professor é dos bons ou dos maus. Esta é, sem dúvida, a avaliação do pior eduquês em todo o seu esplendor. É um enorme passo para a asfixia intelectual dos professores e para a sua menoridade profissional. E é a negação da desejável diversidade pedagógica, transformando os professores em meros instrumentos de uma cadeia de produção em série e impedindo os alunos de se enriquecer no contacto com diferentes estilos e metodologias.

Mas o que realmente importa no desempenho do professor é, respeitando os alunos e os seus direitos, ensinar-lhes e ajudá-los a aprender o que é suposto aprenderem, recorrendo às concepções pedagógicas que muito bem se entender. É relativamente fácil apurar se o professor soube realmente ensinar e se os alunos conseguiram realmente aprender, independentemente da metodologia usada e das concepções pedagógicas em jogo, desde que os seus alunos realizem no final do percurso exames bem concebidos. E se se ponderarem os resultados dos exames comparando-os com a média de cada disciplina nas respectivas escolas, estamos muito próximos de um sistema de avaliação muito mais justo, simples, eficaz e dignificante para todos. Claro que para isso era preciso haver mais exames, além de melhores programas e de mais formação de professores, coisas que não parecem interessar minimamente a senhora ministra.

Assim, tudo indica que quando a senhora ministra afirma totalitariamente que ou se aplica o seu modelo ou não há outro, só pode estar a fazer chantagem, o termo que utiliza para descrever o comportamento dos sindicatos junto dos professores, como se os professores fossem idiotas. A verdade é que neste momento já não são os sindicatos a comandar os professores, mas os professores a empurrar os sindicatos, de tal modo que os próprios sindicatos já não estão em condições de cumprir o acordo assinado há meses com o ministério. De nada serve, portanto, ao primeiro-ministro apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Se estes tivessem representado devidamente os professores, nunca teriam de voltar agora atrás com a palavra. Por isso, não vale a pena recorrer a fantasias e negar uma realidade muito crua: a insistência do governo no actual modelo está a degradar como nunca o sistema educativo nacional e a pôr em causa o normal funcionamento das escolas. E esta ministra ficará seguramente na história como a maior desgraça que se abateu nos últimos tempos sobre a educação em Portugal. Isso só ainda não é mais notório porque os efeitos das políticas educativas só se tornam evidentes passados vários anos. Por isso é arrepiante ver a senhora ministra insistir – contra tudo e contra todos os que, em Portugal, já alguma vez revelaram interesse pelas questões da educação – numa teimosia própria de mentes obstinadas e dogmáticas. E é também por isso um imperativo de justiça desobedecer a esta lei arbitrária e injusta, sobre uma questão de tão grande importância. Chama-se a isto desobediência civil e foi isso que fizeram em diferentes circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russell e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei, diz a senhora ministra sem se aperceber que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas terá mesmo de ser.

*Professor titular de Filosofia da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão

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A NOVA FORMA DE REPRESSÃO

ou os Paradoxos da Política Educativa

Paradoxo número um

O Estatuto da Carreira Docente (ECD) dicotomizou os professores em duas categorias: titulares e não titulares. Sob esta nomenclatura opera uma falsa hierarquização: serão os não titulares menos preparados, do ponto de vista científico-pedagógico, do que os titulares?

No Decreto-Lei 200/2007, que regulamentou o primeiro concurso de acesso à categoria de professor titular, pode ler-se “a criação da categoria de professor titular tem como objectivo dotar as escolas de um corpo docente altamente qualificado, com mais experiência e formação (…)”.

Como compatibilizar a “experiência” profissional do professor com o facto de, para efeitos do referido concurso, terem sido apenas validados os últimos sete anos de experiência profissional? Por um lado, a idade surge como fonte de experiência e de formação; por outro, a história profissional que antecede o período mencionado foi reduzida a zero.

Paradoxo número dois

O novo modelo de Avaliação de Desempenho Docente (ADD) , não obstante a sua simplificação apressada, é medíocre.

Em primeiro lugar, dado o número excessivo de instrumentos de registo, a saber: grelha de avaliação do desempenho pelo Presidente do Conselho Executivo/Director; grelha de avaliação efectuada pelo Coordenador do Departamento; grelha de avaliação efectuada pelo professor Avaliador.

Do seu cariz excessivamente burocrático, infere-se a sua falta de exequibilidade.

Segundo, porque estes instrumentos de registo denotam falta de rigor, porquanto como é possível que numa turma de 25-30 alunos e durante uma aula de 90 minutos, um professor avaliador classifique o professor avaliado, por exemplo no parâmetro da “promoção de trabalho autónomo” ou no da “concessão de iguais oportunidades de participação” dos alunos?! A partir de que número é considerada a igualdade de oportunidades e a participação aceitável?

O número de alunos por turma é variável e eles possuem traços de personalidade heterógeneos: uns são tímidos, outros mais extrovertidos, etc.

Instrumentos de registo pouco rigorosos poderão avaliar com rigor?

A desmesura burocrática é proporcional à ineficácia.

Paradoxo número três

A Srª Ministra alega que muitas escolas já procederam à implementação do modelo de ADD. Não são muitas, são muito poucas. E nessas, houve falhas na rede de comunicação (vertical) que mobiliza. Caso contrário, como tornar intelígivel que algumas escolas tivessem avançado com a avaliação dos professores e a maioria não? Que no seio da mesma escola uns departamentos avancem e outros não?

Sim, as directrizes do ministério são incumpridas em muitas escolas do País.

Onde estarão colocados os 120 000 professores, presentes na manifestação do passado dia 8 em Lisboa? Em poucas, pouquíssimas escolas?!

Não é admissível o argumento segundo o qual estes professores foram manipulados por organismos sindicais, partidos da oposição, etc.

Sei pensar autonomamente e estive presente na referida manifestação!

Por outro lado, inverter o argumento dizendo que constituímos agentes de manipulação e de chantagem é, como política, não compreender um dos mais importantes pilares da Democracia: o direito à contestação. Neste caso, a uma política educativa lúcida e autêntica.

É curioso constatar que a obsessão pela quantificação sirva os propósitos do Ministério da Educação nalguns casos como, por exemplo, para avaliar a percentagem de aprovação dos alunos, do 9º ano, nos exames nacionais, para discriminar escolas mediante um ranking cujas variáveis são díspares (não têm todas os mesmos exames, os mesmos níveis, o mesmo número de alunos inscritos) e seja irrelevante quando se trata de uma manifestação que envolve 120 000 professores!

Paradoxo número quatro

Eu e outros colegas fomos obrigados, em Outubro, a elaborar as taxas de sucesso e de abandono para o presente ano lectivo!

Aqui a política dos números é, novamente, valorizada.

Pergunto: Poderei pronunciar-me do ponto de vista psico-cognitivo sobre alunos que desconheço? Sobre quantos abandonarão a escola? Poderei prever e controlar as variáveis inerentes ao processo de ensino-aprendizagem antes deste ocorrer?

Os alunos não são meros produtos, resultados e, como tal, não podem ser coisificados, enformados, deformados, enclausurados em taxas e taxinhas pré-fixadas!

Não me revejo na política do facilitismo, do “laissez faire, laissez passer”. Pugno, como professora-educadora, pela qualidade dos conteúdos, dos materiais e recursos utilizados, pelas pedagogias viabilizadas nas minhas aulas.

Não fiquei indiferente ao facto dos alunos do 9º ano – e sei bem do que falo porque o meu filho frequentou-o no ano transacto –, terem ficado muito mais “inteligentes” no exame nacional da disciplina de matemática. Não poderei esquecer que o elemento decisivo, que se repercutiu nestes resultados, foi o baixo nível de competências exigidas para a resolução dos problemas propostos.

O facilitismo é inversamente proporcional à qualidade do ensino-aprendizagem.

Paradoxo número cinco

E que dizer das quotas para as classificações agregadas a este modelo de ADD?

Sei o que valho como docente, sei o nível de conhecimentos que possuo na minha área. Terei que me submeter a este regime de classificações, também elas pré-anunciadas? Quem manipula quem?

Imaginem que possuo uma turma com dois alunos excelentes e que lhes digo: “x terá a classificação final de 19 valores e y não”. O que sentiriam eles? E os seus encarregados de educação?

Defraudados.

Este sistema de quotas é um mecanismo de distorção da avaliação. E um modelo de ADD que não admite rigor e se furta à autenticidade dos resultados servirá para avaliar? Terá alguma fecundidade?

Paradoxo final

Sou a favor da A.D.D. Estou é contra este modelo. Se pudesse classificar este e o anterior modelo diria, apenas, que o Relatório de reflexão Crítica de Desempenho era uma farsa, sobretudo devido à inoperância dos órgãos a quem competia tornar credível todo esse processo de avalição e este, que se pretende implementar, uma farsa hiperbolizada.

Sou professora/educadora e a minha primacial tarefa é ensinar/educar com qualidade, desenvolvendo nos alunos o gosto pelo Saber, pelo Fazer e pelo Ser. Serem Pessoas dotadas, no futuro, de competências indispensáveis ao exercício de uma cidadania esclarecida, activa e interventiva. O legado de um professor é re-actualizado ao longo de cada minuto das suas existências.

Os meus alunos estão e estarão sempre em primeiro lugar.

Eis uma Política Educativa repleta de paradoxos, implementando o absurdo. Há, todavia, um sentido oculto no des-sentido: o autismo político instituiu-se como forma de repressão e a renúncia ao princípio da discutibilidade a morte da Democracia.

Paradoxo mortal.

Elsa Cerqueira,

Professora de  filosofia

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Miguel Portas acerca da manif de 8 Novembro


A manifestação foi ainda maior do que a anterior, que já tinha sido gigantesca.
A pergunta, inteiramente legítima, à luz das declarações da ministra nos telejornais, é muito simples: quantos mais terão que ser para que a senhora oiça? Ou ouça, que dos dois modos se pode dizer e escrever.
Cheguei a casa emocionado e comovido
Aquele mar de professores está obviamente mais do que farto. Suspeito que o estão por todas as pequenas razões de um quotidiano frustrante, e que por isso se podem resumir numa curta frase: ser professor assim, não dá. Quando mais de dois terços de uma classe sai à rua, é porque, apesar do desencanto, ainda transporta dentro de si a energia da dignidade. Não é preciso ser-se professor, psicólogo ou ministro para o entender. Mas existe uma professora que é ministra e que nada entende de gente, que não percebe. Continua a não perceber.
Em casa, a comoção transformou-se em espanto quando ouvi Maria de Lurdes Rodrigues
Consigo compreender que, intimamente, ela esteja convicta da justeza do sistema de avaliação. Consigo, porque quem lida com gente tem a obrigação de saber ouvir nas palavras do outro, o que na realidade o motiva. Mas é precisamente aí que Maria de Lurdes Rodrigues é um caso perdido. Ela tem da escola, da avaliação e do próprio conflito uma visão intrinsecamente administrativa. Todo o seu discurso é orgânico, robotizado: a avaliação começou a ser negociada no verão de 2006, foi validada por um conselho científico, se não funciona na perfeição, a responsabilidade é das escolas – “está nas suas mãos tornar as coisas mais simples” – e tem de continuar porque não há outro modelo disponível. Então está tudo bem, pergunta o jornalista. Que quase que sim e que está a ser melhorada todos os dias e que o pode continuar a ser nos próximos, desde que se concretize.
Há, nesta cultura administrativa de poder, uma cegueira que raia o autismo
Para a ministra, todas as escolas estão a avaliar, não tem notícia de que alguma a tenha suspendido. Então e a manifestação, sempre são 120 mil, não é?, insiste o jornalista. Pois que sim que são, mas que há nela uma chantagem sobre os professores que querem fazer o seu trabalho. Ouve-se e é dificil de acreditar. Se os que estão na rua são professores, onde é que estarão os outros? “Chantagem”, quando dois terços de uma classe sai à rua? Porque não faz sentido, é preciso procurá-lo.
Diz-me a experiência que posso ter a melhor ideia do mundo, mas que ela me é inútil se quem tem que a concretizar não concorda
Com Maria de Lurdes Rodrigues é diferente. Ela tem um mundo único, exclusivo e intransmissível. Nele, o que leva os professores a sairem à rua é “o medo ante a mudança”. Tenho inveja desse mundo, confesso. No meu, que é normal e feito de pessoas comuns, o medo costuma fechar as pessoas em casa. No mundo da ministra, a manifestação foi uma cabala urdida pelos partidos da oposição. Renovo a minha inveja. Naquele em que vivo habituei-me, pelo contrário, a uma enorme desconfiança dos movimentos genuínos face aos partidos. Sei, por experiência própria, que é preciso uma classe estar rigorosamente nos limites da exasperação, para pedir ajuda aos políticos que reconheça comprometidos com a sua luta. Pois foi isso que aconteceu desta vez. Centenas, senão milhares de professores nos pediram – “Não nos deixem cair”, “não nos abandonem”, “ajudem-nos”.
Não, não foram os partidos que manipularam os sentimentos dos professores; foram estes que exigiram da política o compromisso que não encontraram no seu ministério.
Estive nas duas manifestações
Porque politicamente estou solidário com esta luta, mas também porque sou pai de dois filhos que estudam na escola pública. Quero que eles gostem das escolas que frequentam. Quero que aprendam, que estudem e que tenham aproveitamento. Sei que têm professores melhores e piores, como estes sabem que têm alunos mais interessantes e interessados e outros nem tanto. É assim a vida, feita de encantos e desgostos. Gosto dela porque é assim, imperfeita e por isso aperfeiçoável. Do que não gosto é de uma escola que, frustrando os professores, não se pode encontrar com os alunos, que são a sua razão de ser. Uma escola de professores desesperados e angustiados é uma escola que morre dentro de muros. É por isso que a ministra até podia ter a melhor avaliação deste mundo, mas não servir. A avaliação que urge não é a dos professores, mas a de um ministério e de uma ministra que têm sido incapazes de perceber o mal que estão a fazer às próprias escolas. Não preciso de muita papelada nem de conselhos científicos para concluir que o problema mora em cima.

Miguel Portas

Actores míseros, mas com espada

despojados pela brava

destroem-nos a lucidez

querem tirar-nos o brio

por muito que tentem

não nos vão calar o pio!

Nestes dias que adivinho

com a espada branca envergada

peito feito, lá estaremos

p´ra defender a razão

contra a triste obstinada!

Por falta de honesto intelecto

há-de bem pagar a brava

nós não vamos desistir

de lutar p´la manhã clara!

Não vos deixeis ficar

Ide, ide engrossar fileiras

Lutai, lutai…

Desembainhai a espada

Arregaçai as mangas

a hora é de luta pela razão

de marchar contra a desgraça

de marcar a posição

de exigir justiça

doa, doa a quem doer…

pois a verdade é esta

antes quebrar que torcer!

Paulo Pereira

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Ressuscitem o papel selado!
30.10.2008, Santana Castilho, in Público

Os docentes são asfixiados em burocracia e a escola afastada da sua missão principal. O ensino está à beira do abismo

Esta crónica tem uma causa próxima: um pequeno texto inserto na rubrica Sobe e Desce deste jornal, no passado dia 24. Rezava assim, a dado passo: “Os sindicatos dos professores não querem, de todo, a avaliação. A maioria da classe não quer, de todo, a avaliação…” Quem escreveu isto desconhece por completo o que se passa no sistema de ensino e propala uma enorme falsidade, que ficaria sem reparo, não fora a gravidade do que actualmente se vive nas escolas portuguesas e a necessidade de esclarecer, por isso, a opinião pública.
Mente quem diz que os sindicatos e os professores não querem sujeitar-se a avaliação. Mentiu o próprio primeiro-ministro, quando há dias disse ao Diário de Notícias que nunca no passado foi feita avaliação dos professores. Desafio quem quer que seja a sustentar documentalmente tais enormidades. A realidade é bem diferente. Os professores rejeitam este (e sublinho o pronome demonstrativo este) modelo de avaliação. Porque não cumpre o fim primeiro de qualquer exercício de avaliação do desempenho: a melhoria do próprio desempenho e a valorização das práticas profissionais. Quando o primeiro-ministro, em acto sintomática e reveladoramente falhado, afirma que a avaliação dos professores se faz por “uma” (e sublinho o artigo uma) razão, “premiar o mérito”, torna-se patente por que os professores não aceitam visão tão redutora. Sobretudo porque este “premiar o mérito” se construiu por via de uma tômbola aviltante, que dividiu professores em titulares e outros, deixou de fora profissionais altamente qualificados e esmagou dedicações e competências. Se tivessem vergonha, os seus autores, que têm nome e rosto, pintavam a cara de negro, a cor do luto, e não ousavam falar de premiar o mérito. Mas há mais, que ninguém pode desmentir. Este modelo de avaliação penaliza os professores que usem direitos protegidos por leis de dignidade superior: direito a engravidar, direito a estar doente, direito ao recolhimento (nojo) por morte de pai, mãe, filho ou filha, mulher ou marido e até o elementar direito de não ser prejudicado pelo cumprimento de obrigações legais impositivas (comparecer em tribunais). Este modelo de avaliação penaliza os professores quando os alunos desertam da escola ou chumbam; põe professores de Música a avaliar professores de Matemática, bacharéis a avaliar doutores; mete no mesmo saco, para efeitos de graduação profissional, quem seja classificado com insuficiente, regular ou bom; instala nas escolas um pernicioso clima de desconfiança e competição; coloca toda a classe numa espécie de estágio permanente, com uma vida profissional inteira de duração; privilegia os cargos administrativos e burocráticos em detrimento das funções lectivas; institui uma casta de Kapos incumbidos de controlar e reportar aos donos; aniquila a liberdade pedagógica e intelectual do professor. Isto e muito mais são bestialidades que um coio de incompetentes quer impor aos professores. Que diriam jornalistas e comentadores, que escrevem ligeiro sobre a matéria, se os arrastassem em tal caudal de disparates?
Esta é apenas uma, eventualmente a mais gritante, das vertentes que asfixiam os docentes em burocracia e afastam a escola da sua missão principal: ensinar. Os portugueses não percepcionam quanto o sistema de ensino está à beira do abismo. Os professores sufocam com tarefas administrativas e reuniões. Há reuniões de todo o tipo: de coordenação de ano, para conceber testes conjuntos, para desenhar grelhas, para analisar resultados, de conselho pedagógico, com encarregados de educação, com alunos, para preparar as actividades de estudo acompanhado, de formação cívica, da área de projecto, de tutoria, de apoio educativo, de recuperação de resultados, de superação de necessidades educativas especiais, etc., etc.
Os papéis não têm fim. Tenho à minha frente seis folhas de um documento intitulado Coordenação de Ano de um agrupamento de escolas. Para o interpretar tive que me socorrer de um glossário. Aqui fica a tradução das siglas, omissão feita às que não consigo decifrar: CE (conselho executivo); CA (conselho de ano); PRAE (Plano de Recuperação e Apoio Educativo); PCT (Projecto Curricular de Turma); CGAS (critérios gerais de avaliação somativa); AEC (actividades de enriquecimento curricular); PTT (professor titular de turma); TIC (tecnologias de informação e comunicação); PGEI (Programa de Generalização do Ensino de Inglês); CAA (comissão de acompanhamento alargada); CAR (comissão de acompanhamento restrita); SPAEC (supervisão pedagógica das actividades de enriquecimento curricular); CEI (currículo específico individual); UAM (unidade de apoio à multideficiência); PAA (Plano Anual de Actividades); PA (plataforma do agrupamento); CAD (comissão de avaliação do desempenho).
Chega? Não! Por favor, Madre Lurdes e Santo Valter, ressuscitem o papel selado!
Santana Castilho : Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
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A DEVIDA COMÉDIA

por Miguel Carvalho

Criancinhas

A criancinha quer Playstation. A gente dá.

A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.

A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.

A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.

A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.

A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.

A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.

Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.

Desperta.

É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.

A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.

A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.


A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência

meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».

Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.

Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».

A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».

Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?

Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.

Artigo publicado na revista VISÂO online

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Subscrevo este sinal, apesar de nunca ter votado PS; mas desta vez não só não vou votar PS como vou votar CONTRA o PS; aliás todos os portugueses deviam ter vergonha na cara e enxergarem um pouquinho à frente do nariz, pois à custa dos seus votos, comprados por um punhado de promessas que não passam de mentiras chapadas, continuam a vaguear na passerelle sempre as mesmas caras, sempre os mesmos cadáveres políticos.

O zé povinho tuga tem a memória muito curta e não se coíbe em idolatrar gente que, apenas porque Deus lhe deu uns dotes vocais que espicaçam a populaça, conseguem iludir os papalvos prometendo-lhes mel e dando-lhes fel.

Expliquem-me, como se eu fosse muito burro, como é possível as pessoas serem desde há vários anos espezinhadas pelos políticos, a sua vida a andar para trás todos os dias, apesar desta fachada social em que vivemos, parecendo todos ricos, mas que na realidade somos de uma pobreza geral confrangedora, e na hora da verdade, na hora de julgar quem esteve no poder, parece que este povo ostenta orgulhosamente aquela expressão «quanto mais me bates mais eu gosto de ti» e, de duas uma, ou premeiam quem lá esteve, ou fazem lá voltar quem lá esteve anteriormente. É assim há décadas e parece-me que esta triste e incompreensível sina se vai manter.

Expliquem-me como se eu fosse muito burro, como é que o zé povo teima em perpetuar na sanguessuguisse política pessoas comprovadamente corruptas que se servem do Estado e não o oposto, que mandam apertar o cinto e auferem salários inacreditáveis, pagos pelos nossos impostos e num acto heróico demitem-se quando algo corre mal mas a ausência temporária apenas serve para darem um giro pelas cadeiras dos conselhos de administração de grandes empresas para, à sombra de salários ainda maiores, poderem calmamente reflectir sobre as borradas que fizeram e sobre as que farão quando o Zé povo os fizer voltar.

Estou neste preciso momento a ver um debate na RTP sobre o pantanal em que vai o PSD que se diz o maior partido da oposição e que já foi várias vezes governo; pois quem são as caras? Quem são? Sempre as mesmas. Sinceramente, estou-me nas tintas para a crise do PSD, agora preocupa-me na perspectiva que são vitórias sucessivas de José Sócrates que a seu bel-prazer, por detrás daquela carapaça de indiferença, vai enriquecendo uns poucos e dando cabo da vida a muitos.

Há uns dias, no meio de cem mil, confesso que senti um cheirinho de consolação e nos dias que se seguiram reparei que toda uma classe (finalmente unida) lutava pela sua dignidade e pelos seus legítimos direitos. Pois passado pouco tempo dou com um cenário de cachimbo da paz, com apertos de mão à mistura e com os nossos alegados representantes a cantarem vitória, quando afinal NADA de fundo e concreto conseguiram; adiaram o inevitável, mantendo-se todas as aberrações ministeriais.

Tudo isto faz da minha cabeça um turbilhão cuja reacção é esta desilusão que há muito proclamo enquanto professor, mas sobretudo enquanto cidadão; muito mais que os políticos, desilude-me este masoquismo social; o país está gravemente doente, todos os sectores estão de rastos, a crise internacional quando entra em Vilar Formoso sofre um processo de multiplicação brutal e aqui vivemos todos contentes neste vale de lágrimas a bater palmas aos políticos.

Por sentir que eu e muita gente vamos nadando contra uma maré que além de avassaladora é cada vez mais negra, e contra a qual parece nada haver a fazer, lanço aqui um apelo e com ele me calarei:

Das poucas coisas democráticas que ainda restam em Portugal, uma delas é que só é Governo quem o povo quiser. Façam uma análise aos últimos, vá lá, vinte anos e quando estiverem atrás do biombo nas próximas legislativas, lembrem-se disso. Olhem que no papel devem estar mais de uma dezena de partidos que nunca lhes foi dada oportunidade de provarem o que valem e ainda há a abstenção.

Não, não estou em campanha! A minha campanha é, e sempre será, contra as carcaças do sistema que se revezam por conveniência, governam por conveniência, legislam por conveniência, enfim, existem por conveniência.

Receio, no entanto, que as sondagens estarão mais uma vez certas e daqui por dez anos direi ainda com mais veemência: CADA POVO TEM OS GOVERNANTES QUE MERECE!

Não acreditam?

Vejam:  https://paulocarvalhoeducacao.files.wordpress.com/2008/04/finlandia.pdf

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Num tempo de verdadeira catadupa de artigos de opinião sobre sociedade/educação aqui fica, porventura, o mais inquietante e realista que me chegou. Leiam, meditem e lamentem-se…

Texto escrito por um professor de filosofia (única fonte disponível)

O atestado médico.
Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e, vai
ter de fazer uma vigilância.
Continue a imaginar.
O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso elevador. Ou o seu
filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido
pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.
Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta.

Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada,
por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la? Passemos
então à parte divertida.

A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador
avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada,
ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico.

Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do
atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença
poderá justificar a sua ausência na sala do exame.

Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida
para passar a ser hilariante. Chega-se ao médico com o ar mais saudável
deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado
do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias.

A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado
através de noções básicas da  psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos
que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o
sucesso dos programas de faca e alguidar.

O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente.
O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional
sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está
doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no
elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está
doente.

Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca,
do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.

Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.

Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil
e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos
de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.
Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira
várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia
uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma
predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois
de termos chorado baba e ranho a ver o “ET”, que este é um boneco e que
temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões.

O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal
é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D. Afonso
Henriques, que Deus me perdoe. A começar pela política. Os nossos políticos
são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos
habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que
seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões
para falar verdade.

Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa,
ela irá levar a mal. Fica ofendida. Se eu digo isso é para a ajudar, para
que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada
comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque
assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu
sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que
assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não
falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e
com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos
deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo
disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e
culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos
malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a
Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias,
temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado,
entulho  lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com
chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.

Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o
mundo.

Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar
preso no elevador que precisa de um atestado médico.

É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.

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Ainda há gente acordada…

clicar no pdf sequesso.pdf

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Mais uma mente lúcida e realista:

Ser professor em Portugal


António Maduro

O sistema educativo português tem servido de palco a múltiplas experiências, consoante o perfil dos protagonistas que assumem a liderança ministerial. Cada qual mexe e remexe a seu bel-prazer. São improvisações peregrinas de qualquer iluminado, importações pré-cozinhadas de modelos educativos de outras realidades sociais e culturais, menus pedagógicos e utópicos dos mais variados tipos e atributos. E como a coisa naturalmente não funciona, o legislador descarrega incessantemente leis, decretos, circulares, avisos, que anulam, que alteram, que esclarecem, e sobretudo que baralham e entorpecem os actores que tentam sobreviver no terreno.

O importante para cada ministro é deixar marca pessoal, anulando irreversivelmente o precedente ou desfigurando-o. Neste país, pasme-se, qualquer um pode ser ministro da educação e a sua acção, por mais nefasta que seja, jamais será avaliada e o seu titular sancionado. Os insucessos resultantes destas políticas erráticas eram, ciclicamente, utilizados como arma de arremesso entre os partidos do poder. Mas isso são águas passadas. Descobriu-se, agora, que é mais fácil denegrir o elo mais fraco, ou seja, os professores.

Os professores são agora culpados de todas as falhas do sistema, do atraso estrutural do país, das neuroses colectivas, da desestruturação familiar, do desemprego, da falência do Estado social, da decadência da classe média e, provavelmente, dos desaires da selecção. Nada é remetido para a profunda incompetência dos dirigentes políticos e de sucessivos ministérios que reforçam dia após dia o centralismo, a burocracia e o caos, negando a individualidade, a cultura e a inovação endógena às Escolas.

A Escola Pública sobreviveu à massificação, à inflação do número dos seus pares, ao atravessamento de muitos que, sem o serem, fizeram de professores para tapar os buracos do sistema, à complexidade crescente das exigências sociais. Agora pede-se que sirva de depósito de crianças e adolescentes e que os seus professores façam o papel de animadores, de psicólogos, de assistentes sociais, de pais e mães, de distribuidores de afectos, de missionários e sacerdotes e ainda habilitem os jovens para a vida profissional e prosseguimento de estudos… O esforço tem sido grande e dificilmente reconhecido.

Quer-se que a Escola recupere um atraso centenar como um milagre de alminhas. Basta lembrar que em 1910 cerca de 80% da população era analfabeta (taxa maior de escolaridade tinham os netos dos antigos escravos americanos)  e que à beira do 25 de Abril de 1974, esta percentagem atingia ainda os 35%. Também na entrada da revolução dos cravos o número de licenciados ficava-se pelos míseros 4%, enquanto a França contava com 40%. Sociedade, cultura e mentalidade não se alavancam de um momento para o outro, daí  a demagogia feroz das comparações. Então comparemos a estatura dos nossos políticos, com a dos seus homólogos franceses, alemães e até espanhóis e toca a rir pessoal, que a galhofa faz bem à alma lusa.

É certo que os professores não estão isentos de culpas. Aceitaram e até embarcaram nas ridículas modas pedagógicas, não questionaram firme e publicamente o desvario disciplinar, o severo e preocupante desajustamento curricular, a absurda hora lectiva. Resignaram-se em demasia, vencidos pela hierarquia ou pela comodidade de não fazer mais ondas, quando o mar encapelado já torna tão difícil a vida da tripulação.

Mas os tempos agora estão mais conturbados. Abriu a caça ao professor, apodado de corporativo (o que é risível), de retrógado e de incapaz.  Esta campanha panfletária e populista, bem urdida por sinal, tem contado com o suporte dos média enfeudados ao poder e de alguns serventuários fabricantes de opinião. Como pãezinhos multiplicaram-se as invectivas, as inverdades, os malabarismos. Sabemos bem que a opinião de uns tantos adopta estrategicamente a conveniência clubística e que o discurso seria outro se os seus dilectos adversários fossem os autores das messiânicas reformas. Mas isto é a outra história da miséria das consciências.

A mensagem triunfante é a do sucesso estatístico para a reclassificação na listagem europeia. Para quê a qualidade, o conhecimento, a autonomia reflexiva, a formação do cidadão para o exercício da democracia política, social e cultural. Cabe ao professor pactuar com o sistema, baixar o nível da aprendizagem, a fim de assegurar a circulação sem escolhos. Entra-se no paraíso do diploma, invertendo a razão de vida do próprio sistema. Para obviar a resistências incómodas, o professor passa a ver a sua progressão profissional vinculada à transição dos alunos. Este sistema perverso, desqualificador das aprendizagens, a ir  avante,  vai assassinar a Escola Pública e levar à migração dos filhos das classes médias altas, que se irão, inevitavelmente furtar ao miserabilismo e degredo da futura escola pública. Retorna-se à racionalidade mecânica do industrialismo aplicado a pessoas e não a objectos.

A última descoberta reside na avaliação. Os professores não querem ser avaliados, bramam as carpideiras do poder. Vamos, então, desmontar o lego. Acontece que os professores constituem uma das classes profissionais com maiores habilitações. Para ingressar no sistema têm de deter uma licenciatura e de se submeter a um estágio profissional. Muitos não ficaram por estes requisitos primevos e, a suas expensas, tiraram pós-graduações, mestrados e até doutoramentos, frequentaram voluntária e obrigatoriamente um rol inúmero de acções de formação de natureza científica, didáctica e pedagógica. Um dos parâmetros essenciais à progressão na carreira docente baseava-se na realização com sucesso destes cursos. Mais ainda, os professores sempre cumpriram a avaliação estipulada pelo Ministério. Mas os professores, como uma das classes mais expostas, são avaliados pelo sucesso/insucesso das suas aprendizagens, pelo conhecimento dos seus alunos, pelos resultados nos exames, pela interacção que estabelecem com a turma, pela relação com a comunidade… As Escolas e com elas os docentes têm sofrido regulares avaliações pela Inspecção Geral de Ensino e com resultados reputados de meritórios.

Curiosamente é este governo que faz da avaliação dos professores o seu quase exclusivo programa político quem retira os dias de formação antigamente consignados no seu Estatuto profissional e, assim, impede a frequência de colóquios e conferências da especialidade disciplinar; que inviabiliza as licenças sabáticas para realização de mestrados e doutoramentos… Como diria o português, não bate a bota com a perdigota.

Mas porque recusam afinal os professores este modelo de avaliação? Como primeiro argumento, realço a decepção. Nas sociedades e organizações complexas, os modelos para aferir a competência e fiabilidade têm de ser debatidos com os actores e não impostos. Chama-se o primado do diálogo. Exige-se ainda que os avaliadores possuam mais experiência e habilitações profissionais que os avaliados, critério que de modo algum foi assegurado com o inaudito concurso para professor titular (que pelos pontos mais se assemelhou a um concurso televisivo, pois nada aferiu de valias científicas, técnicas e pedagógicas). Pede-se também que a avaliação assuma um carácter formativo e não uma mera incursão punitiva para poupar tostões ao cofre do Estado cerceando carreiras e expectativas. Pede-se ainda que seja exequível nos procedimentos e não arraste a Escola e os professores para a papelada estéril, desviando estes profissionais do direito e dever de ministrar boas aulas, de preparar as suas lições, de ensinar.

Venha a avaliação, mas com engenho, com igualdade, com seriedade!

António Maduro
(professor)

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E PARA QUANDO A AVALIAÇÃO DOS PAPÁS?
Ferreira Fernandes

O Carolina Michaëlis, que já teve o belo nome de liceu, não serve os miúdos do bairro do Aleixo, no Porto. Não, aquele vídeo (ver págs. 4 e 5) não mostra gente com desculpas fáceis, vindas do piorio. Pela localização daquela escola, quem para lá vai vive às voltas da Boavista e os pais têm jantes de liga leve sem precisar de as gamar. Os pais da miúda histérica que agride a professora de francês estarão nessa média. Os pais do miúdo besta que filma a cena, também. Tudo isso nos remete para a questão tão badalada das avaliações. Claro que não me permito avaliar a citada professora. A essa senhora só posso agradecer a coragem. E pedir-lhe perdão por a mandar para os cornos desses pequenos cobardolas sem lhe dar as condições de preencher a sua nobre profissão. Já avaliar os referidos pais, posso: pelo visto, e apesar das jantes de liga leve, valem pouco. O vídeo mostrou-o. É que se ele foi filmado numa sala de aula, o que mostrou foi a sala de jantar daqueles miúdos.|

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A marcha da indignação vista por Filomena Mónica

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Daniel Sampaio, o intocável, será que desta vez também é burro e inútil???

sampaio.jpg

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E esta, hein???

Super Escola Portuguesa


A SUPERESCOLA ou o retrato da escola portuguesa


Onde estão as melhores escolas do mundo?
Claro! Está certo! Em… Portugal

Ora vejamos com atenção o exemplo de uma vulgar turma do 7º ano de escolaridade, ou seja, ensino básico.
Ah, é verdade, ensino básico é para toda a gente, melhor dizendo, para os filhos de toda a gente!
DISCIPLINAS / ÁREAS CURRICULARES NÃO DISCIPLINARES
1. Língua Portuguesa
2. História
3. Língua Estrangeira I – Inglês
4. Língua Estrangeira II – Francês
5. Matemática
6. Ciências Naturais
7. Físico-Químicas
8. Geografia
9. Educação Física
10. Educação Visual
11. Educação Tecnológica
12. Educação Moral R.C.
13. Estudo Acompanhado
14. Área Projecto
15. Formação Cívica

É ISSO – CONTARAM BEM – SÃO 15
Carga horária = 36 tempos lectivos
Não é o máximo ensinar isto tudo aos filhos de toda esta gente? De todo o Portugal?
Somos demais, mesmo bons!

MAS NÃO FICAMOS POR AQUI!!!!
A Escola ainda:
Integra alunos com diferentes tipologias e graus de deficiência, apesar dos professores não terem formação para isso;
Integra alunos com Necessidades Educativas de Carácter Prolongado de toda a espécie e feitio, apesar dos professores não terem formação para isso;
Não pode esquecer os outros alunos,”atestado-médico-excluídos” que também têm enormes dificuldades de aprendizagem;
Integra alunos oriundos de outros países que, por as mais das vezes não falam um cu de Português, ou melhor, nem sequer sabem o que quer dizer cu;
Tem o dever de criar outras opções para superar dificuldades dos alunos,
como:
*     Currículos Alternativos
*     Percursos Escolares Próprios*     Percursos Curriculares Alternativos*     Cursos de Educação e Formação

MAS AINDA HÁ MAIS…
A escola ainda tem o dever de sensibilizar ou formar os alunos nos mais variados domínios:
*     Educação sexual
*     Prevenção rodoviária
*     Promoção da saúde, higiene, boas práticas alimentares, etc.
*     Preservação do meio ambiente
*     Prevenção da toxicodependência
*     Etc, etc…
“peço desculpa por interromper, mas… em Portugal são todos órfãos?” (possível interpolação do ministro da educação da Finlândia)
Só se encontra mesmo um único defeito: Os professores.
Uma cambada de selvagens e incompetentes, que não merecem o que ganham, trabalham poucas horas (Comparem com os alunos! Vá! Vá! Comparem!!!) Têm muitas férias, faltam muito, passam a vida a faltar ao respeito e a agredir os pobres dos alunos, coitados! Vejam bem que os professores chegam ao cúmulo de exigir aos alunos que tragam todos os dias o material para as aulas, que façam trabalhos de casa, que estejam atentos e calados na sala de aula, etc… e depois ainda ficam aborrecidos por os alunos lhes faltarem ao respeito! Olha que há cada uma!
COM FRANQUEZA!!!










Mandaram-me isto e pus aqui. Não sei o autor, mas… pus aqui!
JAMAIS A VERDADE FOI TÃO BEM ESCRITA
Faço projectos, planos, planificações;
Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;
Escrevo actas, relatórios e relações;
Faço inventários, requerimentos e requisições;
Escrevo actas, faço contactos e comunicações;
Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;
Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;
Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;
Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;
Participo em actividades, eventos, festividades e acções;
Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;
Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;
Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;
Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;
Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;
Redijo ordens, participações e autorizações;
Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;
E mais actas, planos, projectos e avaliações;
E reuniões e reuniões e mais reuniões!…
E depois ouço,
alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores,
observadores, secretários de estado, a ministra
e, como se não bastasse, outros professores,
e a ministra!…
Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;
Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;
Averiguo, estudo, consulto, concluo,
Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,
Educativas, pedagógicas, comportamentais,
De comunidade, de grupo, de turma, individuais,
Particulares, sigilosas, públicas, gerais,
Internas, externas, locais, nacionais,
Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?
– Querem que eu dê aulas!?…
Trascrevo  mais um comentário que foi aqui feito por um ilustre jornalista de nome Alexandre de Barahona. Vejam por onde paira a lucidez e o bom senso:
« Quando os opinion makers, os políticos, os governantes, desprezam toda uma classe profissional que grita na rua… o “fascismo” não anda longe. Dissimulado, certo, mas tão vil como o outro.
Os senhores professores (e ninguém na minha família é professor do secundário) devem ter orgulho nessa manifestação e nas demonstrações ordeiras e correctas que têm mantido. O PC tem aproveitado, mas tal não retira legitimidade aquilo que todos perceberam já, que a indignação dos portugueses atingiu os limites.
Para além do mais, recordem-se disto: os filhos dos políticos, dos governantes, dos opinion makers raros são os que frequentam escolas públicas! E é para se manterem no poder (tal qual classe aristocrática em tempos medievais) que eles desejam destruir o ensino público. Tal como o fazem na saúde pública previligiando os privados, e na justiça que emperrando os tribunais estimula as negociações particulares nos escritórios de advogados, para estes mais receberem.
O pior e que todos eles deixaram de ter a noção que se utrapassou o tal risco, a tal gota de água que faz transbordar o copo. E insistem, insistem…
Força senhores professores, indepedentemente da razão que assistiria à ministra ou a essa classe superior que nos governa e diz como pensarmos, as injúrias com que têm atingido expressões democraticas como as vossas, fazem com que eles percam qualquer réstea de honestidade. Salvou-se talvez o António Barreto.
Nota: nunca trabalhei com o Sr. Rangel, nem nunca o vi, por isso não pense ninguém que, o meu testemunho seria uma farpazita por esta via endereçada a terceiros.»

Trascrevo este texto enviado por uma colega num comment à minha carta aberta ao Sr Rangel. É apenas uma comparação entre a terra dos verdadeiros «hoolingans» e a terra dos hoolingans do Sr Rangel.
Em Bristol, Inglaterra há escolas EB23 do Unificado como as nossas.
Mas diferentes…..
Os alunos das escolas entre os 10 e 16 anos
– Usam uniforme
– Cumprem horário
– Não há campainha /( famosa cabra!)
– Há prémios para os melhores
– Há castigos para os mal comportados
– Cumprem as regras
– São educados para o reconhecimento da autoridade
– E para o respeito da hierarquia
– Não precisam de toque da campainha para ir para as aulas
– Não arrumam os materiais em algazarra
– E ao som estridente da cuja (campainha – cabra!)
– Desde pequenos aprendem a regularem-se pelo relógio!
E para eles é normalmente correcto que assim seja!
– Estes miúdos e professores têm aulas apenas de 60 minutos!
– Entram ás 8.30 h e saem às 14.40 h.
– Estes alunos e professores têm tempo para viver além da Escola:
para ler,brincar,estudar, conviver, fazer desporto, etc.
Estes alunos não têm mais insucesso do que os portugueses,
Pelo, contrário, de forma geral mostram muito maior domínio das competências básicas!!!
O sistema educativo português abusa do tempo passado na sala de aula e minimiza o rigor e está completamente errado!
Um professor inglês ficou surpreso face ao tempo que os nossos alunos passam na escola e face à duração das aulas.
Refere um artigo científico onde se provava que para além de 60 minutos a capacidade de concentração e trabalho de qualquer criança/ adolescente / jovem é nula !!!
Onde está a actualização dos estudos científico –filosófico – psicológico – sociais -educativos dos responsáveis pela Educação?
PORTUGAL É O ÚNICO PAÍS DA COMUNIDADE EUROPEIA COM AULAS DE 90 MINUTOS!
O único país em que os alunos passam tantas horas na escola!
O único país onde vigora a treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmo direitos!
Na Inglaterra os miúdos crescem aprendendo e compreendendo que o professor é o detentor da sabedoria, de poder conferido por um estatuto profissional, que deve ser respeitado e obedecido.
Os mais pequenos miúdos de onze anos com o seu uniforme de calças pretas e camisola azul-turquesa, respeitam até o seu delegado de turma que, para se distinguir usa … gravata!
Os caminhos seguidos pela Educação de 1974 para cá devem levar-nos a uma
reflexão !!!
__________________________________________________________________
E a nossa Escola !!! Procura-se…
E a nossa Escola !!! Procura-se…
Será a Escola Ideal?
Que interessante modelo educativo o dos ingleses!
Em Bristol, Inglaterra há escolas EB23 do Unificado
como as nossas.
Mas diferentes…..
Os alunos das escolas entre os 10 e 16 anos
– Usam uniforme –
Os alunos portugueses vestem-se como trolhas, chulos e prostitutas
– Cumprem horário –
Sempre atrasados, arrastados, aos arrotos e outras coisas!
– Não há campainha – ( famosa cabra!) –
Adoram barulho; campainhas , sub-hoofers, etc
– Há prémios para os melhores –
Os melhores e excelentes que se lixem!
– Há castigos para os mal comportados –
Os mal comportados são os heróis da escola, os heróis da festa! ocupação única dos Executivos, Pedagógicos, Conselhos de turmas e não se que mais e…. ainda sobra para a bófia como eles lhes chamam!!!
– Cumprem as regras – Regras não há: não há regulamento interno, nem regimento, não há nada…. é tudo uma balda! Onde é que estão os profs !!! onde é que eles estão!!! ???
– São educados para o reconhecimento da autoridade –
Qual autoridade qual carapuça!!! Eu em casa mando no meu cota e na velhota !!! Eu sou o REI! Onde é que estão eles ! Onde é que estão ?
– E para o respeito da hierarquia –
Qual hierarquia! Eu é que sou o maior!!!!
– Não precisam de toque da campainha para ir para as aulas –
As aulas que se lixem! Adoro campainhas, subhoofers e discotecas!
– Não arrumam os materiais em algazarra –
Sem algazarra não há festa!
Os profs. precisam de barulho porque o lá de casa não chega a nada!
– E ao som estridente da cuja (campainha – cabra!) –
VIVA O BARULHO!!!!
– Desde pequenos aprendem a regularem-se pelo relógio! –
Esses gajos são uns betinhos!!!
Eu cá tenho o NOKIA 3G gamado ao “ borradinho” ou ao meu cota… eh! Ih! Ih!! ele nem deu por isso!!!! Até aviso o profs que a aula está mesmo para estoirar!
E para eles é normalmente correcto que assim seja! –
Era o que eles queriam!!!
– Estes miúdos e professores têm aulas apenas de 60 minutos! –
Eu venho para escola para GOZAR …Ih! Ih!
– Entram ás 8.30 h e saem às 14.40 h.-
Era o que faltava levar este tempo a sério!!!!
– Estes alunos e professores têm tempo para viver além da Escola:
Para ler, brincar, estudar, conviver, fazer desporto, etc. –
Para quê ??? eu já faço isso e estou-me marimbando!!
Estes alunos não têm mais insucesso do que os portugueses,
Pelo, contrário, de forma geral mostram muito maior domínio das competências básicas!!! –
Eu não preciso nada disso; tenho o meu cota!.. a minha velhota e tudo o resto …para quê me preocupar!?
O sistema educativo português abusa do tempo passado na sala de aula e minimiza o rigor e está completamente errado! –
Esses gajos são mesmo marados… o que quero é gozar!!!
Um professor inglês ficou surpreso face ao tempo que os nossos alunos passam na escola e face à duração das aulas.
Refere um artigo científico onde se provava que para além de 60 minutos a capacidade de concentração e trabalho de qualquer criança/ adolescente / jovem é nula !!!
Onde está a actualização dos estudos científico –filosófico – psicológico – sociais -educativos dos responsáveis pela Educação?
PORTUGAL É O ÚNICO PAÍS DA COMUNIDADE EUROPEIA COM AULAS DE 90 MINUTOS! –
Não havia de haver aulas nenhumas! Deviam-nos pagar a 20.00 Euros por cada hora na Escola!!!! Ih!!! Ih!!! Ih!!!
O único país em que os alunos passam tantas horas na escola!
O único país onde vigora a treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmo direitos!
Na Inglaterra os miúdos crescem aprendendo e compreendendo que o professor é o detentor da sabedoria, de poder conferido por um estatuto profissional, que deve ser respeitado e obedecido. –
O s profs e os funcionários são meus escravos… estão abaixo do cota e da velhota!!!!
Os mais pequenos miúdos de onze anos com o seu uniforme de calças pretas e camisola azul-turquesa, respeitam até o seu delegado de turma que, para se distinguir usa … gravata!
Os caminhos seguidos pela Educação de 1974 para cá devem levar-nos a uma reflexão !!!
VIVA A LIBERTINAGEM !!!!”

*Profs…. a culpa é deles!

*Texto notável de  Ricardo Araújo Pereira
Neste momento, é óbvio para todos que a culpa do estado a que chegou o
ensino é (sem querer apontar dedos) dos professores. Só pode ser
deles,aliás. Os alunos estão lá a contragosto, por isso não contam. O
ministério muda quase todos os anos, por isso conta ainda menos. Os únicos
que se mantêm tempo suficiente no sistema são os professores. Pelo menos os
que vão conseguindo escapar com vida.
É evidente que a culpa é deles.
E, ao contrário do que costuma acontecer nesta coluna, esta não é uma
acusação gratuita. Há razões objectivas para que os culpados sejam os
professores.
Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas que
escolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão ser colocados
no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano de um aluno ou de
qualquer um dos seus familiares.
O que é que esta gente pode ensinar às nossas crianças? Se eles possuíssem
algum tipo de sabedoria, tê-Ia-iam usado em proveito próprio. É Sensato
entregar a educação dos nossos filhos a pessoas com esta capacidade de
discernimento? Parece-me claro que não.
A menos que não se trate de falta de juízo mas sim de amor ao sofrimento.
O que não posso dizer que me deixe mais tranquilo. Esta gente opta por
passar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro e a
ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater. Sem
nenhum desprimor para com as depravações sexuais-até porque sofro de quase
todas -, não sei se o Ministério da Educação devia incentivar este contacto
entre crianças e adultos masoquistas.
Ser professor, hoje, não é uma vocação; é uma perversão.  Antigamente, havia
as escolas C+S; hoje, caminhamos para o modelo de escola S/M. Havia os
professores sádicos, que espancavam alunos; agora o há os professores
masoquistas, que são espancados por eles. Tomando sempre novas qualidades,
este mundo.
Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povo
cigano.
Já estão habituados ao nomadismo e têm fama de se desenvencilhar bem das
escaramuças. Queria ver quantos papás fanfarrões dos subúrbios iam pedir
explicações a estes professores. Um cigano em cada escola, é a minha
proposta.
Já em relação a estes professores que têm sido agredidos, tenho menos
esperança.
Gente que ensina selvagens filhos de selvagens e,depois de ser agredida,não
sabe guiar a polícia até à árvore em que os agressores vivem, claramente,
não está preparada para o mundo.Ricardo Araújo Pereira in Opinião, Boca do Inferno, Revista Visão

VASCO PULIDO VALENTE SOBRE AVALIAÇÃO DE PROFESSORES

«Como se pode avaliar professores, quando o Estado sistematicamente os “deseducou” durante 30 anos? Como se pode avaliar professores, quando o ethos do “sistema de ensino” foi durante 30 anos conservar e fazer progredir na escola qualquer aluno que lá entrasse? Como se pode avaliar professores, se a ortodoxia pedagógica durante 30 anos lhes tirou pouco a pouco a mais leve sombra de autoridade e prestígio? Como se pode avaliar professores, se a disciplina e a hierarquia se dissolveram? Como se pode avaliar professores, se ninguém se entende sobre o que devem ser os curricula e os programas? Como se pode avaliar professores se a própria sociedade não tem um modelo do “homem” ou da “mulher” que se deve “formar” ou “instruir”?
(…)
Basta olhar para o “esquema” da avaliação de professores para perceber em que extremos de arbítrio, de injustiça e de intriga irá inevitavelmente acabar, se por pura loucura o aprovarem. Mas loucura não falta.»

Vasco Pulido Valente

FONTE: Público

coitadinhos de nós

« De : Maria Teresa Duarte Soares – teresa. duartesoares@ t-online.de
AlemanhaData: 26.02.08Caríssimas colegas
Caríssimos colegas
Antes de mais, os meus mais sinceros parabéns pela organizacão do
vosso movimento. Já há bastante tempo que temia ver os professores em
Portugal e os professores portugueses no estrangeiro perto de cair num
marasmo inoperacional relativamente às prepotências,
injustiças,ilegalidades, indecências, etc,etc,etc, do nosso Ministério
da Educação. Estou satisfeitíssima por ver que tal não é verdade, pelo
menos no que respeita aos docentes em Portugal.
Os professores portugueses no estrangeiro encontram-se, a meu ver,
ainda num estado de inacção que me custa compreender, apesar de desde
1998 terem sidpenalizados de todos os modos possíveis pelo ME, a
título de uma falaciosa e irreal “poupança.l
Sou, desde 1982, professora de Língua e Cultura Portuguesas no
Estrangeiro, e pertenço ao QND da Escola B 2,3 Mestre Domingos Saraiva
no Algueirão.
Tenho sido sempre activa sindicalmente,encontrando-me no momento na
Direcção do SPCL (Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas).
Conheço bem os sistemas de ensino da Alemanha e da Suíça, os dois
países em que trabalhei longos anos.
Por isso, envio-vos aqui várias informações sobre os docentes e o
ensino nos dois países, informações estas que poderão usar do modo que
vos for mais útil, e onde poderão ver que os professores mais
explorados da Europa, são, sem sombra de dúvida, os docentes
portugueses.

Alemanha
Avaliação dos docentes:
Têm, de 6 em 6 anos, uma aula ( 45 minutos) assistida pelo chefe da
Direcção escolar. Essa assistência tem como objectivo a subida de
escalão.
Depois de atingido o topo da carreira, acabaram-se as assistências e
não existe mais nenhuma avaliação.
Não existe nada semelhante ao nosso professor titular. Sempre gostava
de saber onde foi o ME buscar tal ideia. Existem, claro, quadros de
escola.
Não existe diferença entre horas lectivas e não lectivas. Os horários
completos variam entre 25 e 28 horas semanais.
As reuniões para efeito de avaliação dos alunos  têm lugar durante o
tempo de funcionamento escolar normal,nunca durante o período de
férias. Sempre achei um pouco preverso os meninos irem de férias e os
professores ficarem a fazer reuniões…
Tanto na Alemanha como na Suíça, França e Luxemburgo, durante os
períodos de férias as escolas encontram-se encerradas! Encerradas para
todos, alunos, pais, professores e pessoal de Secretaria! Os alunos e
os professores têm exactamente o mesmo tempo de férias. Não existe
essa dicotomia idiota entre interrupções lectivas, férias, etc.
As escolas não são centros de recreio nem servem para “guardar” os
alunos enquanto os pais estão a trabalhar.
Nas escolas de Ensino Primário as aulas vão das 8.00 às  13 ou 14 horas.
Nos outros níveis começam às 8 .00 ou 8.30 e terminam às 16.00 ou, a
partir do 10° ano,às 17.00.
Total de dias de férias por ano lectivo : cerca de 80 ( pode haver
ligeiras diferenças de estado para estado)
Alunos
Claro que existem problemas de disciplina. Mas é inaudito os alunos ,
ou os pais dos mesmos, agredirem os professores. A agressão física de
um professor por um aluno  pode levar à expulsão do último.
Os trabalhos de casa existem e são para serem feitos. Absolutamente
inconcebível que um encarregado de educação declare que o seu
filho/filha não tem nada que fazer trabalhos de casa, como acontece,
ao que sei, em Portugal.
É terminantemente proibido os alunos terem os telemóveis ligados e
utilizarem-nos durante as aulas. As penas para tal são primeiro aviso
aos pais, depois confiscação do telemóvel e por fim multa.
Suíça
Tal como na Alemanha, os professores só são assistidos durante o
período de formação e para subida de escalão.
Durante os períodos de férias as escolas encontram-se, como na
Alemanha, encerradas.
Os horários escolares são semelhantes aos da Alemanha. Até ao 4° ano
de escolaridade, inclusive, não há aulas de tarde às quartas-feiras,
terminam cerca das 11.30.
No início das aulas os alunos cumprimentam o professor apertando-lhe a
mão e despedem-se do mesmo modo. Claro que não há 28 ou 30 alunos numa
classe, mas no máximo 22.
O telemóvel tem de estar desligado durante as aulas.
É dada grande importância aos trabalhos de casa. A não apresentação
dos mesmos implica descida de nota final.
Total de dias de férias : cerca de 72 ( pode haver diferenças de
cantão para cantão)   .
Vencimentos
Só uma pequena comparação … na Suíça um professor do pré- primário no
topo da carreira recebe 5.200 francos mensais líquidos ( cerca de
3.400 euros),mais ou menos o dobro do que vence um professor em
Portugal no topo da carreira…..
Caras / Caros colegas:
Espero não ter abusado da vossa paciência com a minha exposição.
Porém, acho que ficou claro que, se o ensino em Portugal se encontra
em péssimo estado, a culpa não é dos professores, mas sim de um ME vendido aos
empresários, que tem como objective actual a quase extinção da escola
pública, para que a mesma produza analfabetos funcionais, que
trabalharão sem caixa médica e sem subsídio de férias , porque nem
sabem o que isso é, e se souberem, não poderão reclamar porque não
saberão escrever uma carta em termos…. Isto para não mencionar as
massas que se entregarão à criminalidade, prostituição, etc.
Um grande abraço para todas /todos da colegaTeresa Soares »

A AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES in BLOG do semanário SOL

« A actual ministra da Educação, à semelhança de Cristóvão Colombo, também quer chegar à Índia navegando para Ocidente. Que falta cá fazia D. João II para lhe explicar que, propondo-se ela navegar nessa direcção, nunca vai conseguir lá chegar.


Infelizmente, temos de nos contentar com um Presidente da República que avalia o trabalho dos ministros apenas sob o prisma da despesa e uma primeiro-ministro que se julga o D. Sebastião, por ter saído do nevoeiro guterrista.


Sou a favor, obviamente, de uma avaliação rigorosa do desempenho dos professores. Mas, por isso mesmo, sou totalmente contra este modelo de avaliação. A avaliação dos professores, em primeiro lugar, tem de ser externa e, em segundo lugar, tem de ter em conta, essencialmente, o trabalho na sala de aula e a avaliação e o sucesso dos alunos (Atenção: não confundir sucesso com as notas dadas pelos professores). Com efeito, devia caber ao inspector assistir a aulas, analisar as planificações, os testes e os resultados dos testes e aferir da adequação das aulas, das estratégias e da avaliação levada a cabo pelo professor relativamente às turmas e aos alunos em concreto.


E a avaliação tem de ser externa por duas razões: por um lado, para dar credibilidade à própria avaliação, impedindo que rivalidades, inimizades e desconfianças, inerentes a toda a relação de vizinhança, interfiram no processo, até porque, como sói dizer-se, «ninguém é herói para o seu criado»; por outro lado, para que os professores não se dispersem ainda mais em burocracias, afastando-os da sua verdadeira função que é ensinar.


Imagine-se o que seria se o Ministro da Justiça (ou melhor, o Conselho Superior da Magistratura) decidisse copiar o modelo, passando a avaliação dos juízes a ser feitas pelos seus colegas do tribunal. Ou seja, o juiz do 1º Juízo ia avaliar o juiz do 2º Juízo e assim sucessivamente. Havia de ser bonito! A função dos juízes, colocados nos tribunais, é julgar, dar sentenças e despachos não é avaliar os colegas. Isso é e deve ser feito por inspectores, destacados para o efeito e com reconhecida competência.


Só que aquilo que o Governo e a ministra querem, como se vê claramente por este modelo de avaliação, é apenas poupar dinheiro e domesticar os professores. O resto é conversa para enganar os tolos que, infelizmente, são muitos e com direito a voto. »


NOTA MINHA: O que realcei a azul…. hum… portanto… quer dizer… porque será que realcei???

39 responses

12 03 2008
Maria João

Como professora, repudio, de forma veemente e triste, a opinião emitida pelo Sr. Rangel, na coluna “Coisas do Circo” (CM, de 08-03-08). Caso o jornal não emita, num dos seus próximos editoriais, um pedido formal de desculpa aos professores, como forma de protesto pelas barbaridades aí escritas e pelas ofensas nela contidas, eu, que sou leitor assíduo do jornal, vou deixar de o adquirir para sempre e exercer a minha influência para que outros façam o mesmo. Espero também que todos os meus colegas tomem igual postura… Afinal, fomos mais de 100.000, não contando com muitos outros que, por razões diversas, não puderam estar presentes.
Maria João

12 03 2008
Maria Godinho

Queria dar os Parabéns ao colega pela resposta ao Pseudo jornalista Emídio Rangel e dizer que estive em Lisboa, não sou comunista, não estou sindicalizada, votei no P.S e continuo a dar a cara pelo P.S, mas não perdi a lucidez, porque acima da política está a minha dignidade pessoal e profissional. Ao fim de 26 anos de dedicação à profissão, tenho sido muito injustiçada, porque não é só a avaliação, pois o pseudo concurso para Titulares foi outra fantochada, e por aí… passei a minha vida a fazer horas a mais por gosto e vocação e agora impõem-me tudo e perdi a vontade de fazer para além do necessário.

12 03 2008
soniapessoa

Nós, pais, que queremos o melhor para os nossos filhos, só podemos estar ao lado daqueles que seguem esta profissão por amor à camisola, que lutam diariamente querendo o melhor para os filhos que são nossos, mas que é com eles (professores) que passam a maior parte do dia.
O meu apoio incondicional na luta pelos vossos direitos e dignidade merecida. Até porque, se não vos forem dadas as melhores condições de trabalho, não há amor à camisola que resista!

13 03 2008
Alexandre de Barahona

Caro senhor,
não sou comunista, nem socialista nem outra coisa terminada em “ista” qualquer, no entanto sou jornalista.
E enquanto tal, devo à minha consciência estas parcas palavras que lhe dirijo.
Parabéns pela sua resposta!
Quando os opinion makers, os políticos, os governantes, desprezam toda uma classe profissional que grita na rua… o “fascismo” não anda longe. Dissimulado, certo, mas tão vil como o outro.
Os senhores professores (e ninguém na minha família é professor do secundário) devem ter orgulho nessa manifestação e nas demonstrações ordeiras e correctas que têm mantido. O PC tem aproveitado, mas tal não retira legitimidade aquilo que todos perceberam já, que a indignação dos portugueses atingiu os limites.
Para além do mais, recordem-se disto: os filhos dos políticos, dos governantes, dos opinion makers raros são os que frequentam escolas públicas! E é para se manterem no poder (tal qual classe aristocrática em tempos medievais) que eles desejam destruir o ensino público. Tal como o fazem na saúde pública previligiando os privados, e na justiça que emperrando os tribunais estimula as negociações particulares nos escritórios de advogados, para estes mais receberem.
O pior e que todos eles deixaram de ter a noção que se utrapassou o tal risco, a tal gota de água que faz transbordar o copo. E insistem, insistem…
Força senhores professores, indepedentemente da razão que assistiria à ministra ou a essa classe superior que nos governa e diz como pensarmos, as injúrias com que têm atingido expressões democraticas como as vossas, fazem com que eles percam qualquer réstea de honestidade. Salvou-se talvez o António Barreto.
Nota: nunca trabalhei com o Sr. Rangel, nem nunca o vi, por isso não pense ninguém que, o meu testemunho seria uma farpazita por esta via endereçada a terceiros.

13 03 2008
Joana Campos

Fui professora, ou antes, sou professora porque nunca se deixa de o ser. E isto cresceu-me na alma e desenvolveu-se até hoje. E, por isso, não permito que nenhum verme nos enxovalhe na praça pública. O Sr. Rangel, que diz ter sido professor, nem sabe o que isso é. Infelizmente, é há bito velho deste país ouvir e calar. Este senhor devia ser responsabilizado pelas palavras que escreveu e ser julgado pelas entidades competentes. Mas neste país morno nada acontece aos senhores que se sentem deuses. Deixamos que tudo nos seja dito e a justiça não actua. Verdade seja dita que nós não a procuramos para que a verdade seja reposta. Medo ou por comodismo?
Toda a gente fala de educação, toda a gente é especialista em educação! E só ouvimos aleivosias. Quando será que deixam aos profissionais de educação essa tarefa?
Colegas, é a hora (como diz Fernando Pessoa). Não abdiquem agora de nada a que temos direito – respeito, dignidade, verdade …
Joana Campos

13 03 2008
Joaquim Oliveira

Espectacularmente escritos os comentários pelos professores competentes e de coragem! Bem haja a todos.

13 03 2008
Paulo Jorge Carvalho

Olá comunidade! (quem diria eu usar este termo no meu blogue!!!)
Quero aqui prestar a minha homenagem ao Sr. Alexandre de Barahona (2 comentários acima) e dizer-lhe que é de jornalistas como o senhor que este país está ávido. É preciso ter muito nível para tecer um comentário como o seu, onde a discordância nunca lhe belisca a sensatez e muito menos a elevação.
Permita-me que pegue nesta sua pérola e a «poste» no meu espaço num lugar de destaque, pois é brilhante a sua lucidez e bom senso. Bem haja pelo contributo e é para mim uma enorme satisfação ver pessoas da sua estirpe visitrem o meu singelo blogue!

13 03 2008
Cego do Maio

Cego do Maio

Na minha terra Natal, Póvoa de Varzim, o nome de Cego do Maio é muito querido porque foi uma pessoa que lutou para salvar a vida de pessoas em perigo no mar. Pescador, lobo do mar sempre pronto para dar a mão em prol dos outros. Obrigado Paulo Carvalho pela música das suas palavras em defesa de uma classe que se manifestou de uma forma nunca vista. Também estive lá presente entre a centena de milhar. Nunca tinha visto a união clara de nós professores, contratados, vinculados, aposentados. Sim aposentados que vi por lá e muitos. Estou revoltadíssimo pelas palavras de um tal de Rangel. Este senhor não sabe o que é ser professor. Apelidar-nos de hooligans, de mandados pelos comunistas. Tenho o maior respeito quer pelos comunistas como por todos que lutam pelos seus ideais. Não sou filiado em nenhum partido mas sou sindicalizado. Sou um defensor do 25 de Abril de 1974. Onde estava o Sr. Rangel nesse dia? Se o senhor tivesse de calcorrear os caminhos tortuosos, de deixar a família, de estar muitos meses sem receber o ordenado. Talvez não tivesse a estupidez de falar assim e dizer barbaridades pela boca fora. O que me deixa indignado é que agora qualquer um se acha no direito de opinar sobre a educação. Saberá o que se passa nas escolas? Conhecerá realmente as nossas escolas públicas? Ou é dos tais que tem os filhos em escolas privadas? Que nada tenho contra as escolas privadas nem contra os colegas que lá trabalham. Saiba vossa senhoria que trabalho há 18 anos. Entre eles vários anos como professor contratado e nunca virei costas ao trabalho. Tenho um ordenado de 1500 €. Não é muito em comparação com os chorudos de alguns que trabalham menos do que eu e nunca passaram tiveram de deixar a família para ir trabalhar com os alunos. Tenho muito orgulho na minha profissão e orgulho-me de pertencer à classe dos professores portugueses. Obrigado Paulo Carvalho

14 03 2008
DUARTE ROCHA

Sr. Professor Paulo de Carvalho, envio-lhe o meu sincero desabafo, em relação a tão triste e lamentavel artigo, do tristemente triste Emidio Rangel, que enviei a todos os meus COLEGAS e não só…

BOA PÁSCOA!!!

Esta notícia é a expressão de um qualquer recalcamento ou de um
problema grave do seu autor, e do foro “PSICOLÓGICO”?
Alguém o encaminhe para uma consulta da especialidade!

Também é óbvio que até os malucos e os tolos e já agora também os
bêbados, dizem algumas coisas com sentido, mas a generalização e as
contradições deste senhor, tiram-lhe toda a razão mesmo que até tenha
alguma, como por exemplo ao admitir mesmo entre parêntesis, que a maioria dos professores até são bons. A contradição está no entender desse senhor, que essa maioria não esteve lá e muito menos de acordo com os que lá estiveram, mas esperem ai, se há em Portugal uma média de 150 mil Professores e lá em Lisboa, estiveram quase 100 mil, raios e coriscos, eu sei que a Matemática não sou muito bom, mas pelos vistos os meus Professores de tão cara disciplina para os Mesmos, foram melhores que os supostamente excelentes Professores deste senhor, visto os “Meus” terem conseguido ensinar que a maioria de 150 mil são 75 mil + 1, ou então este senhor, anda muito mal informado com os reais números da CLASSE DOCENTE.

Pior anda a ver vermelho em todo lado, que me leva a crer, que além de problemas psicológicos ainda sofre de daltonismo e logo o grau mais grave, o daltonismo que supostamente sofrem os touros, é por isso que o homem marra de uma forma tão raivosamente convincente, será que não há ninguém que lhe espete uma bandarilha no sitio que o homenzinho está a precisar…

Deixem-me contar uma pequena história. Eu em tempos fui encarregado de uma pequena fábrica de fabricação de jóias (Luar jóias Ltd.), e pelas minhas “mãos” passaram mais de 20 futuros Ourives, acreditem dos que se aproveitaram pelas suas competências, dedicação e honestidade, contam-se pelos dedos de uma mão. No meu percurso académico (“+” 12 anos e 6 escolas), percurso formacional (quase 1000 horas, em vários centros de formação e escolas) e percurso profissional na educação (+17 anos e 5 escolas), interagi e agi com centenas de Professores, Formadores e Educadores. Digo-lhes com toda a sinceridade, no campo da minha percepção, os Professores que não dignificavam a sua Classe, os dedos dos membros superiores e inferiores são mais que suficientes para os contar.

Por isso deixemo-nos de tretas não é à toa, que os PROFESSORES são a
classe mais reconhecida pela SOCIEDADE.

Bem haja, a todos os DOCENTES, sejam eles bons ou menos bons, o que
importa aqui salientar é o direito que assiste a um qualquer trabalhador, de ser devidamente recompensado quando a sua entidade patronal reconhece, como reconhece a excelentíssima ministra, que está a exigir mais responsabilidades, mais trabalho, mais competências e principalmente admite, que está a “fornecer” matéria prima cada vez mais difícil de se trabalhar, como a um Oleiro, que se lhe pede para fabricar uma peça em barro, de igual qualidade de uma peça de porcelana, e lhe dão barro pedregoso para tão difícil empreitada.
E como recompensa a esses “Oleiros”, das futuras louças que embelezarão os “castelos” do futuro das quinas, dá-se-lhes o quê, nada vezes nada, e como se não chegasse, ainda lhes querem tirar o que tanto custou a ganhar com muito melhor “BARRO!!!”.

O meu muito Obrigada!!! Pela atenção dispensada, para tão sentido
desabafo, a uma CLASSE, que merece por todos ser ACARINHADA.

Boavista Porto, 12 de Março de 2008 (STAAE / ZN)

Duarte Rocha (Auxiliar de Acção Educativa), com muito ORGULHO!!!

14 03 2008
elisa costa

Parabéns a todos quantos tiveram a coragem de “finalmente” mostar que somos uma classe e que somos “gente”, “gente” competente, com ética, com preocupações profissionais que vão para além dos muros da escola, “gente” que merecia ser bem tratada! Deixem que os nossos políticos experimentem, por uma semana, ser professores! Depois, ponham a ministra a avaliá-los!

14 03 2008
vitor teotonio

Li o seu direito à contestação. Respeite-o.
No entanto não desmente que tenha sido o PCP a PAGAR a deslocação. Só me lembro disso no tempo de Salazar.
No entanto a minha pergunta é esta: tendo eu sido um profissional da banca
estive lá 35 anos e (por azar meu) nunca cheguei a um cargo directivo. Eramos
avaliados todos os anos. Então porque é que um professor atinge o topo da
carreira em 14 anos? Seja bom ou mau.
Não estariam mais bem preparados os alunos com um afinco de profissionalismo da vossa parte?
Mas digo que isto ainda se resolve (e a bem) já que existem muitos e bons
professores.
E o que digo sei-o através de minha esposa que se aposentou no ME e sempre
em estabelecimentos de ensino.
Victor Teotónio

14 03 2008
vitor teotonio

Ressalvo a palavra respete-o deve ler-se Respeito-o.
Em tempo:
Porque será que quando existe uma greve da função pública os professores
colocam-se sempre de parte?
Considerar-se-ão uma classe à parte?
Ou aproveitam a greve dos outros para também terem um fim de semana
alargado?

Victor Teotónio

15 03 2008
Víbora

Se alguém se cruzar com o Sr. Emídio Rangel pode perguntar se tem saudades dos corredores da Universidade Independente (LOL)… Perguntem-lhe pela fantástica jornalista estagiária estrangeira que fez uma brilhante reportagem sobre o seu profissionalismo na SIC… Essa reportagem não passou em horário nobre? Uma verdadeira vergonha para Portugal que quem viu dificilmente esquece… Obter dinheiro acima de tudo… Publicidade… Opinião Publica… Telhados de vidro (LOL)… Há quem tenha a reportagem gravada em VHS (LOL)… O magnífico Sr. Emídio Rangel devia ser o próprio a colocar no youtube… A opinar sobre a profissão de Professor e a Educação em Portugal! Este homem ainda me consegue surpreender…

15 03 2008
carlos pereira de castro

quero agradecer ao professor paulo carvalho pela carta aberta, a qual subscrevo inteiramente. carlos pereira de castro, professor de educação visual na escola eb 2,3 fernando távora, guimarães.

16 03 2008
Marianela Henriques

Paulo:
Não o conheço mas impressionou-me o seu poder de resposta. Eu sou uma professora bastante indignada com tudo o que se passou na minha vida: aos 54 anos eceitei, por se considerar do máximo interesse para o país, uma requisição para o departamento de Matemática da U.C. Durante 2 anos fiz formação aos alunos 4º ano do ramo educacional, chegando a supervisora de estágio. No ano de concurso a prof titular rejeitei a continuidade da minha requisição. Fui altamente penalizada, pois na componente lectiva apenas pontuei com 6 pontos, e não tinha cargos… Face à interpretação da legislação que rege o concurso. Isto foi um desabafo…A manifestação de 8 de 8 de Março, foi uma lição para a ministra e para os sindicatos. Estamos unidos e nada nos demoverá!
Ninguem tem medo de ser avaliado… Acho eu! Mas não desta maneira extemporânea e nestes moldes… O M.E que reconheça o erro cometido, ao emanar directrizes de um órgão que nem sequer está constituido! Assumam o fracasso…Por outro lado entendo que o 8 de Março foi um alerta.. A continuidade e êxito deste processo, penso eu, passa por rejeitar o dito processo de avaliação, até que o M.E cumpra a sua parte e não descarte para as escolas o que não foi capaz de fazer… Assim sendo, a nossa posição devia ser única:elaborar um texto comum, rejeitando a avaliação nestes moldes… Estaria disponível para o fazer? poderia haver 100000 processos disciplinares…E depois? Agradeço uma opinião, já que a mimha intenção não é ver este texto publicado. mas apenas um desafio…

18 03 2008
Paula Castro

Sr Vitor Teotonio
Peço desculpa mas não entendi muito bem. Não entendo como é que a sua mulher atingiu o topo da carreira em 14 anos. Deve haver algum mal entendido, porque eu já tenho 17 anos e ainda ía a meio. Agora já nem sei – estou a ser reposicionada”. Mais, sr Teotonio, nestes 17 anos conheci muitas escolas, só nos últimos 10 anos é que obtive um vínculo definitivo e a muitos km de casa: moro em Esposende e fui colocada como efectiva pela 1ª vez em Celorico de Basto, mesmo pertinho, não acha? Nos últimos 5 anos consegui aproximar-me e estou, repetito à 5 anos a exercer a 20 km de casa, o que perfaz pelo menos 40 por dia, isto se não tiver de me deslocar duas vezes, para reuniões é calaro. É que sabe, Sr Teotonio tenho dois filhos a frequentar o ensino básico cujo prolongamento termina às 17.30 e são muitos os dias em que pai e mãe se encontram nas reuniões e formações. Tudo em horário pós-laboral. Talvez o sr, devesse ter tentado o ensino, afinal é só facilidades e os 100 que se manifestaram fizeram-no porque não tinham mais nada que fazer nesse dia.

18 03 2008
Pedro Bonniz

Caro Paulo Carvalho:

Vim aqui parar porque alguém me enviou a sua resposta ao artigo do Emídio Rangel (ER), artigo que não conhecia até então. Li ambos (o artigo e a sua resposta) e, como é óbvio, tirei as minhas ilações. Li ainda alguns dos comentários à sua reacção no site do Correio da Manhã (CR). Se, por um lado, entendo que o ER exagerou, constato também que as reacções à sua (do ER) crónica o não são menos (exageradas).
Entendo eu que, neste processo todo, vai o justo pagar pelo pecador. Explicitando: os genuínos bons professores (os que têm efectivamente vocação) não têm nada a temer de qualquer processo de avaliação, venha ele de onder vier e tenha ele mais ou menos qualidade intrínseca. Este processo de avaliação ora lançado pelo Ministério da Educação (ME), seja ele bom ou não, é NECESSÁRIO. Hom’essa ! Então porquê ? Porque, quer queiram quer não, a classe (refiro-me aos professores do secundário em geral) está inundada de pessoas sem vocação que (parafraseando ER) “trabalham pouco, ensinam menos”. E em que é que me baseio para dizer isto ? Trata-se de um processo conhecido que, com tiques corporativistas, a classe parece ignorar: montes de recém-formados, em virtude da ausência de colocação no mercado de trabalho apropriado por um lado, e por causa do facilitismo no acesso ao ensino que imperou durante muitos anos após o 25 de Abril por outro, foram parar ao Ensino sem estarem minimamente preparados e vocacionados para tal. Resultado: uma classe docente tremendamente descaracterizada e pouco motivada. Ao contrário do que se possa pensar, este movimento não parou nos últimos anos. Concedo que se atenuou um pouco devido à melhoria geral da oferta de emprego a recém-licenciados, mas esta não compensou totalmente a atracção que o Ensino vem representando para os que caracterizei antes. Assim sendo, a população docente deste País continua inquinada e o estado de coisas que até agora se vem verificando por via da ausência de avaliação e de um corporativismo acentuado tendia a eternizar-se se nada se fizesse. Paga o justo pelo pecador ? Talvez, mas não é seguramente com reacções corporativistas e pouco maduradas que os Professores vão reabilitar a classe. Será antes através de um processo de separação do trigo (onde o incluo, e já digo porquê) do joio (onde estão os outros que mencionei antes e que são demasiados).
Dir-me-á: “Isso é dividir para reinar !”. Ora isso representa um processo de intenções, qual cortina de fumo igualmente utilizada pelos sindicatos, que nada adianta à matéria em causa.
Sejamos objectivos: há ou não há um problema de qualificação e vocação para o Ensino entre a classe ? não se consegue quantificar ou percentualizar ? Muito bem ! Então conceda-se o benefício da dúvida a quem vem estudando o problema há já muitos anos (e refiro-me ao Ministério e respectivos técnicos, não à ministra), não tendo nunca encontrado um responsável pela tutela com coragem (excepção feita, talvez, à insuspeita Manuela Ferreira Leite que em má hora foi desviada para outras funções) para fazer as reformas que se impunham. Também é verdade que só agora isso é possível porque há um excedente de docentes face à diminuição da população escolar (por via da redução na taxa de natalidade) e à sua estabilização após o “boom” do “Ensino para todos”.
Perante estas realidades, acautelando o futuro, o que é que se deve fazer ? Eliminar os excedentes ao mesmo tempo que se providenciam meios para poder fazer a escolha entre o trigo e o joio. Isto tem um nome: Racionalização !
Acho que, pessoalmente, os bons professores não têm nada a temer. Não só porque são profissionais conscienciosos, mas também porque não acredito que o sistema ora proposto, por muito mau que seja (e francamente, nem eu nem ninguém está em condições de o avaliar antes de ser posto em prática), penalize os bons e deixe passar em claro os tais… a não ser que os bons, fazendo um hara-kiri profissional, se deixem contaminar pelo desânimo de que falam e tomem a nuvem por Juno. Continuem a fazer o seu (bom) trabalho, que não é por aqui que “vai o gato às filhós” !
Voltando a si, Paulo Carvalho, porque é que o incluo no “trigo” ? Porque li o seu artigo intitulado “INCRIVELMENTE, VOU DIZER ALGO DE NOVO!!!” e aí encontrei bastas razões de concordância consigo na análise que faz do estado a que a Educação chegou (em Portugal e não só). E acho que é a falta de análises críticas como essa, por parte de professores e seus representantes, que deixou que chegássemos a este ponto.
Permita-me que lhe lembre: em termos de opinião pública, a única coisa de que sempre os professores (ou os sindicatos, se quiser…) deram conta (isto é, reagiram) foi de quaisquer alterações que mexessem com o seu “bolso”, fosse directamente, via remuneração, fosse indirectamente, através de medidas que os obrigassem a estarem controlados e a terem de prestar contas a alguém.
Como leigo que sou na matéria, mas não me considerando um cidadão desinformado, diria que “tarde piaram” (os professores). Tivesse o movimento dos professores sido coerente e consistente nas suas reivindicações ao longo dos anos (contestando veementemente os erros citados no texto) e hoje teriam “moral” para protestarem. Não o tendo feito, independentemente da bondade (ou maldade) das reformas que esta ministra vem fazendo, reservo-me o direito de pensar que ela, mesmo não sendo professora, talvez saiba melhor o que é melhor para o futuro da Educação em Portugal do que uma classe que colaborou (por omissão) no estado em que ela (a ministra) a (a Educação) encontrou.
Finalmente, uma última observação sobre a pertinência de algumas asserções de carácter sociológico contidas no citado texto:
Sempre fui extremamente crítico quanto ao facto de a escola e os professores se terem demitido do seu papel de educadores (como no meu tempo) quando afinal, a evolução dos tempos mais exigia que se compensasse a indisponibilidade dos pais para exercerem esse papel a 100%. Este paradoxo sociológico, com a consequente perda de autoridade da instituição escolar e de tudo o que lhe está associado, foi essencial para que hoje todos os professores se confrontem com o problema da indisciplina tão glosado no texto. Mais uma vez: dêem com a cabeça na parede ! Aos professores (a alguns, pelo menos) deu muito jeito essa diminuição na carga de responsabilidade.
Gostava muito de ouvir alguns responsáveis pelas “corporações” (professores, médicos, juízes, farmacêuticos, enfermeiros, economistas, advogados, informáticos, etc.) serem capazes de fazer uma análise auto-crítica da sua actividade enquante classe profissional. Mas não, o corporativismo impera e o nacional-porreirismo é o sintoma que aflora. “O meu colega é uma besta, mas é meu colega, donde, tenho de o defender”.

Saudações cordiais

Pedro Bonniz

19 03 2008
pjrcarvalho70

Caríssimo Pedro Bonniz:

O senhor acaba de personificar um puro e refinado exemplo daquilo que eu considero democracia, pluralidade, respeito, educação e elevação.
Num extenso comentário, o Pedro alude brilhantemente a factos que não me atrevo a desmentir e, aliás, concordo na generalidade. Tomaram muitos colunistas de renome fazerem um artigo de opinião num jornal ou revista com a qualidade deste seu comentário.

Aproveito, pois, e mais uma vez, para deixar aqui bem clara a minha posição e tanta tem sido a afluência ao meu espaço, depois que publiquei a minha carta aberta ao Sr. Rangel, que sinto a necessidade de dizer o seguinte:

Concordo em absoluto com o Sr. Pedro Bonniz, quando diz que o corporativismo, no mau sentido do termo, mina a qualidade. É um facto. Ele existe em todas as classes da sociedade e os Sindicatos, Associações, Federações e afins têm como missão única zelar pelos interesses da classe, frase que, aliás, não se cansam de propalar.

Ora, eu não sou, nunca fui nem serei sindicalizado, apesar de lhes reconhecer mérito a espaços. Na marcha da indignação, a minha bandeira era negra e dizia « assim não se pode ser professor » e não a de nenhum sindicato. Participei como cidadão, livre que sou, e fiz questão de contribuir para o pagamento do autocarro em que me desloquei.

A minha «luta» é pessoal e muito do que tenho escrito é para reflectir a minha, e só minha opinião, contrapor artigos de opiniões que julgo desviados da realidade, ou defender-me de injúrias e calúnias, como foi o caso do Sr. Rangel.

Caro Sr. Bonniz, é evidente que Portugal está impregnado de pessoas que, à sombra dos tais direitos adquiridos, levam vidas onde a palavra «turismo» tem lugar todos os dias e arrepelam-se-lhe os cabelos quando ouvem falar de avaliação e prestação de contas pelo que fazem. Na classe docente, como noutras, há-os aos magotes. Contudo, e como já referi algures neste blogue, a consciência é a mãe de todas as faculdades e se há pessoas assim, que estavam na primeira linha da marcha, esse peso atormentá-los-á por certo.

Nas minhas esgrimas de opinião eu apenas deixo claro que eu e os milhares de professores que se revêem na minha posição, talvez aqueles a que o senhor chama de «trigo», nada mais querem que respeito pelo seu trabalho; trabalho que apenas devia ser discutido por quem está no «battlefield» e sabe o que hoje encerra a arte de educar uma civilização crivada de vicissitudes.

Entre o trigo e o joio, senhor Bonniz, eu escolho a seara para me definir, bem como a maioria dos docentes, pois nós é que temos à nossa volta trigo e joio e uma coisa lhe garanto: se fosse tudo trigo, até os maus professores obtinham resultados e, se calhar, o Governo até prescindiria de avaliação. No entanto a realidade está bem longe desse sonho e assistimos a uma escola que funciona em prol do joio, reune por causa do joio, noventa por cento da papelada e burocracia é por causa do joio, tem horas suplementares por causa do joio, tem manutenção por equipamentos destruídos por causa do joio, enfim, de tal forma está confinada ao joio que até vidas de professores se querem colocar em risco por causa do joio.

Estou, sinceramente, a ficar cansado desta coisa dos bons e maus professores! Já o disse aqui e repito que esse facto é normal em todas as classes e países do mundo. Não podemos olhar a questão por esse lado porque então ao analisarmos os resultados escolares e a Educação em geral no nosso país, concluímos que os professores são TODOS maus, TODOS baldas, TODOS corporativistas e outros «istas» que quiserem. Não! Não são!

Eu e os professores deste país que dignamente lutam todos os dias contra esta devassa sociocultural que impera e que rejeitamos títulos de bons ou maus, somos apenas PROFESSORES que queremos, repito, queremos ser avaliados de uma forma justa e objectiva, sem critérios arbitrários e incontroláveis. Queremos ser avaliados por um processo que examine, a fundo, a dedicação de cada professor à causa educativa e a forma como a desenvolve, quer nas aulas quer fora delas e não por um sistema cego onde a aberração das quotas só prova o seu único objectivo: castrar carreiras e progressões.

Lanço aqui este desafio ao Ministério: mobilizem equipas multidisciplinares, externas à escola, compostas por insuspeitas personalidades com um currículo de prestação de serviço efectivo docente no ciclo em causa aliado a toda uma formação superior que lhes confira legitimidade de avaliar professores, juntem-lhes representantes dos órgãos executivos e mandem-nos para as escolas. Depois estabeleçam critérios de avaliação unicamente controlados pelos professores e, para fazer a vontade ao povo classifiquem-nos unicamente em BONS e MAUS. Os maus eram exonerados e os bons progrediriam normalmente na carreira. Querem melhor forma que esta para escalonar pessoas por mérito? No final desta utopia, se calhar aumentava o desemprego entre os licenciados, mas vos garanto que os cofres do estado sofriam um «arrombozito». E a Educação estava melhor? Não necessariamente.

Tudo isto para dizer que não me venham com esse «clichet» dos bons e maus para explicar o fracasso educativo em Portugal. Não conheço nenhum professor que não queira o melhor para os seus alunos; afinal quem tem a perder com isso? Todos ganham! Contudo, um professor querer o melhor para a Educação e para os seus alunos e levar todos os dias com causas unicamente imputáveis a si para explicar o fracasso, não aceito; aliás NÃO ADMITO, muito menos se dito com mentiras e injúrias à mistura.

Termino, fazendo esta pergunta: os pais que cumprem a sua função e cujos filhos são de atitude escolar exemplar (não confundir com alunos que têm apenas boas notas) teriam eles sido alvo de protecção divina e, no meio de tanto mau professor, só apanham dos bons?

Reflictam!

Paulo Carvalho

20 03 2008
mariademelo

Parabens caro colega pela forma como respondeu ao imbecil e atrasado mental sr. rangel.

Tenho receio deste fascismo instalado e cada vez mais proximo.

Mas a luta continua.

24 03 2008
Henrique Bonnet Victória

Senhor Paulo Carvalho
Os meus parabens que resposta formidável a esse senhor todo convencido….O senhor Emídio Rangel estava a precisar de umas bofetadas com luvas que o meu amigo lhe deu duma maneira impecável.
Henrique

26 03 2008
joão rangel de lima

Bom dia, tenho 2 filhos, 1 a estudar em kent, outra na escola americana lisboa.
Deixei de ter ‘vida…’ para lhes garantir os estudos fora do caos do ensino em portugal. Bendito investimento que me subtituiu as férias, os cinemas, os restaurantes, as prendas, o dia do pai, da mãe, dos avós, da batata…
Acompanhando os recentes eventos de docentes, educandos e políticos fico ainda sem entender qual a proposta alternativa dos professores no que respeita à sua avaliação?
Se me puderem indicar onde posso ler essa proposta ficaria agradecido.
Muito obrigado

26 03 2008
Ana Ribeiro

Onde estão os pais dos nossos alunos?

Tenho 36 anos e sou professora numa escola de 2º ciclo numa ilha dos Açores há 13 anos. Todos os anos sou Directora de Turma de uma das piores turmas da Escola. O Conselho Executivo acautela-se na distribuição de serviço dando as turmas de alunos com graves problemas disciplinares e de absentismo quase sempre ao mesmo punhado de professores que têm o chamado “perfil” para lidar com quase tudo.

Sempre gostei de desafios difíceis, mas confesso que com o passar do tempo vou-me desanimando com a reiterada falta de respeito que os alunos vêm demonstrando na sala de aula. Praticamente todos os anos faço instrução de procedimentos disciplinares e várias são as medidas educativas disciplinares aplicadas: desde as actividades de integração na escola, em que os alunos realizam tarefas, com consentimento dos pais até suspensões de frequência da escola por um período não superior a 10 dias. Dos alunos com mais reicidência que me lembro, nenhuma destas medidas resultou. Os alunos continuaram a desrespeitar o espaço da sala de aula, inviabilizando, literalmente, a aprendizagem dos colegas e o exercício integral das funções dos professores. Os pais, muitas vezes, não colaboram: demitem-se do seu papel de educadores: preferem a suspensão à “humilhação” que os seus filhos terão que passar com as medidas educativas de actividades na escola, como varrer pátios ou ajudar na cantina e recebem de braços abertos os alunos suspensos, presenteando-os com um novo jogo da playstation ou com umas unhas de gel.

Sinto-me cada vez mais só nesta luta desigual, nesta vontade , de contribuir para a formação de cidadãos, de pessoas,de formar gente decente e honesta! Tenho saudades dos pais presentes que, como o meu pai, se eu chegasse a casa e dissesse que tinha sido expulsa de uma aula, levava dois tabefes no “focinho” – linguagem transmontana de meu pai – e era obrigada a pedir desculpa ao professor. Onde estão os pais dos nosoa alunos?

26 03 2008
pjrcarvalho70

Exmo. Sr. João Rangel de Lima
Dada a pertinência do seu comentário quero dizer-lhe que eu aqui não represento os professores. Eu represento-me a mim e tenho a minha opinião; aliás as minhas reivindicações e até uma proposta pessoal está bem definida no último comentário (ver acima) ao Sr. Bonniz.
Ainda assim posso assegurar-lhe que qualquer sindicato tem uma conjunto de propostas de avaliação; todos os professores querem ser avaliados. Chega de dizerem a mentira que os professores não querem ser avaliados. É falso! Querem é uma avaliação justa, objectiva, sem a aberração das quotas do tipo « ai queres progredir? tens de ser excelente.. mas calma só 20% é que podem!!!» Acha isto justo? Ainda por cima com critérios não controlados pelos professores, como o abandono e os resultados dos alunos. Tenham santa paciência e entendam por uma vez aquilo que move os professores.

Paulo Carvalho

27 03 2008
joão rangel de lima

Bom dia Sr Professor, agradeço a sua pronta resposta e as indicações fornecidas.
Procurarei junto da FENPROF qual o modelo preconizado pela classe docente.
Uma vez mais muito obrigado.

27 03 2008
Elias

Olá Paulo!
Quero, tão somente, encorajá-lo a continuar esta intervenção que tem protagonizado, neste sítio, ao seu jeito e com a motivação justa.
Dizer-lhe, ainda, que muitos dos professores indignados com o que vai por aí em matéria de educação, em geral, lhe reconhecem competência e talento na composição dos textos que publica, considerando quer a forma quero o conteúdo dos mesmos. Nem todos temos o mesmo jeito. Mas temos , isso sim, o mesmo direito à indignação que tão claramente tem relevado no que vem publicando. Obrigado, pois.

30 03 2008
INÊS TELES

BOAS TARDES A TODOS!!!
Ora, hoje, em final de férias lectivas ( sim, férias lectivas porque tenho estado todo o fim de semana a trabalhar para a escola,no meu computador, com o meu papel, etc, etc…), dizia eu que, em final de férias, estive a ler os comentários deste site e depois do que muito ouvi e li durante toda a semana – avaliação, indisciplina nas escolas,etc…- ocorre-me dizer o seguinte:
Então a ministra Rodrigues e seus secretários importam ( plagiam) o SISTEMA de AVALIAÇÃO do CHILE e querem resultados iguais aos da SUÉCIA????
Caros amigos, esta equipa ministerial anda profundamente baralhada com os meridianos geográfricos, pedagógicos, políticos…(e já chega, não?)
É o mesmo que querer fazer bolos da pastelaria Versailles( passe a publicidade)com produtos de um qualquer pasteleiro de hipermercado!!!!
Não nos passem mais atestados de indigência intelectual!Felizmente, a classe dos professores, na generalidade, é composta de um bom lote de leitores, pensadores, até porque a sua profissão a isso obriga.
Não saber isto, não saber com quem estão a lidar, isso sim é a MAIS INDIGENTE das IGNORÂNCIAS!!!! Com que espécie de gente têm eles lidado até às SUAS PROVECTAS IDADES que andam entre os 50 e os 60?
Começo a ter pena… Provavelmente têm uma lista de amigos muito básicos, tal é a preocupação com que andam e o tempo que gastam em conseguir ALTOS CARGOS para SERVIR o PAÍS……….!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Abraço cordial

1 04 2008
Alexandre Ribeiro

O outro lado da moeda…

Terrenos pantonosos, estes do atestado médico… se uma camisa vomitada desse lugar a faltas justificadas, imagino a percentagem de faltas…

Cumprimentos

Alexandre Ribeiro

6 04 2008
Analídio Ganhão

EXCELENTE ESTE ARTIGO
Diz quase tudo sobre a raiz dos problemas da educação em Portugal, digo, da classe docente em Portugal

Retirado do blog DE RERUM NATURA

Graus académicos no Portugal de hoje

A habitual crónica semanal de Rui Baptista sobre a educação nacional:

“Tem duas grandes qualidades: tem saúde e não é bacharel”. Eça de Queiroz (referindo-se a Ramalho Ortigão)

É da mais elementar justiça não atirar para cima das costas do Processo de Bolonha (com a virtude inegável de facilitar a livre circulação entre estudantes e diplomados do ensino superior) toda a pesada herança da verdadeira bagunça que se apoderou do ensino superior em que as reformas, por vezes, têm ocorrido ao sabor de interesses de estratos profissionais.

Em meados da década de 70, os antigos agentes técnicos de engenharia, habilitados com um curso médio, obtiveram uma certificação académica de bacharelato e um título profissional de engenheiro técnico. Quer isto dizer que os engenheiros licenciados por universidades com o titulo profissional de engenheiro “tout court”, não são técnicos… Serão, assim, uma espécie de curiosos que se entretêm em fazer cálculos de engenharia nas horas de ócio! Mas o grau académico de bacharel ainda não era suficiente para os institutos superiores de engenharia do ensino politécnico. Para a obtenção do grau de licenciado universitário em engenharia foram criadas universidades privadas mesmo sem os seus diplomas serem reconhecidos pela Ordem dos Engenheiros.

Mas nada como um breve historial do ensino politécnico para se ficar a conhecer a génese das coisas. Com origem na proposta de um ensino superior curto (com a duração de dois anos), em substituição de escolas e institutos médios, deu-se o salto para um ensino superior politécnico a ser implantado em cidades sem ensino universitário (repito, sem ensino universitário) e autorizado para outorgar o grau de bacharel, apenas. Pouco depois, com a complacência dos poderes públicos, logo se instalaram de armas e bagagem, em urbes de longa tradição universitária, como Coimbra, Lisboa e Porto.

Desta forma, a formação dos professores passou a ter também as portas abertas do facilitismo. As escolas do magistério primário (com tantas e boas provas dadas na formação dos professores do ensino primário) foram transformadas em escolas superiores de educação com a função de formar professores do 1.º ciclo do ensino básico e depois de docentes do 2.º ciclo. Em ideia peregrina saída dos gabinetes da 5 de Outubro, este grau de ensino (chamado anteriormente ciclo preparatório) passou a albergar nas suas fileiras docentes indivíduos com diploma universitário e diplomados pelas escolas superiores de educação.

Neste meio tempo, surgiram, igualmente, em recônditos lugares do país, escolas superiores (?) privadas que em meia dúzia de meses venderam, a diplomados pelas antigas escolas do magistério primário, licenciaturas que em escasso tempo se transformaram em “doutoramentos” obtidos em universidades estrangeiras de duvidosa qualidade. Sem ter em atenção a sua pouca ou nenhuma qualidade, estes doutoramentos estão certamente incluídos na percentagem de doutoramentos que tanto orgulho parece causar à nossa vaidade nacional!

Desta forma desregrada e nesta 3.ª República, distribuem-se a granel títulos académicos, a exemplo de títulos de nobreza que mereceram no século XIX a crítica impiedosa de Almeida Garrett: “Foge, cão, que te fazem barão! Para onde, se me fazem visconde?” “Mutatis mutandi”, em tempos escrevi: “Foge, gato, que de tão o bacharelato! Para que lado, se me fazem licenciado?” (“Diário de Coimbra”, 26. Julho.2001). Hoje em dia, desajustado me não parece acrescentar: Bate as asas canário / não se trata de imaginário /Para além da dádiva do mestrado / Com pouco mais sairás doutorado!…

Mudam-se os tempos e os regimes políticos, nem sempre se mudam as vontades!

29 05 2008
pedrodream

Tão hilariante quanto dolorosamente verdadeiro, infelizmente…

Situação: O Pedro está a pensar ir até ao monte depois das aulas, assim que
entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder fazer
uma fisga.
Ano 1978: O director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a
sua, que é mais antiga, mas que também é boa.
Ano 2008: A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro
para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta
da escola.

Situação: O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas.
Ano 1978: Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e
acabam por ir juntos jogar matrecos.
Ano 2008: A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar,
O Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste
em colocar a Moura-Guedes à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo
debaixo de chuva.

Situação: O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os
colegas.
Ano 1978: Mandam o Jaime ir falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca
de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não
interrompe mais.
Ano 2008: Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime
parece um Zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno
incapacitado.

Situação: O Luis parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai caça um cinto
e espeta-lhe umas chicotadas com este.
Ano 1978: O Luis tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à
universidade e converte-se num homem de negócios bem sucedido.
Ano 2008: Prendem o pai do Luís por maus tratos a menores. Sem a figura
paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a sua
irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luís
começa a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante
meses o caso em estudo, bem como o Você na TV do Manuel Luís Goucha.

Situação: O Zézinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A
sua professora Maria encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Maria
abraça-o para o consolar.
Ano 1978: Passado pouco tempo, o Zézinho sente-se melhor e continua a
correr.
Ano 2008: A Maria é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego.
Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zézinho passa 5 anos de terapia em
terapia. Os seus pais processam a escola por negligência e a Maria por
trauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia
de dívidas suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de
um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda. O dono do carro e
do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de
propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso.

Situação: Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter
chamado “chocolate” ao outro.
Ano 1978: Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada um para sua casa.
Amanhã são colegas.
Ano 2008: A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma
grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a
averiguar factos. Emitem-se programas documentários sobre jovens
problemáticos e ódio racial. A juventude Skinhead finge revolucionar-se a
respeito disto. O governo oferece um apartamento à família do miúdo negro.

Situação: Tens que fazer uma viagem.
Ano 1978: Viajas num avião de TAP, dão-te de comer, convidam-te a beber seja
o que for, tudo servido por hospedeiras de bordo espectaculares, num banco
que cabem dois como tu.
Ano 2008: Entras no avião a apertar o cinto nas calças, que te obrigaram a
tirar no controle. Enfiam-te num banco onde tens de respirar fundo para
entrar e espetas o cotovelo na boca do passageiro ao lado e se tiveres sede
o hospedeiro maricas apresenta-te um menu de bebidas com os preços
inflacionados 150%, só porque sim. E não protestes muito pois quando
aterrares enfiam-te o dedo mais gordo do mundo pelo cú acima para ver se
trazes drogas.

Situação: Rui, 19 anos, uma fama de playboy ganha à base de andar a comer
gajas muito mais velhas que ele, veste roupa de cabedal justinha e cheia de
picos metálicos, conduz um Toyota Corolla Van todo lixado; Manda uma queca
na Carina, miúda de 15 anos, hiperdesenvolvida, que se destaca já das outras
gajas do bairro.
Ano 1978: O Rui é um FILHA DA **** DUM MESTRE !!
Ano 2008: Depois de um linchamento público a nível nacional, com especial
destaque por parte de alguns tertulianos televisivos e ministros podres.
José Sócrates consegue instaurar a pena de morte em Portugal. Rui tem o
horror de ser o primeiro condenado à morte por esta lei nova com carácter
retroactivo.

Situação: Fazias uma asneira na sala de aula:
Ano 1978: O professor espetava duas valentes lostras bem merecidas. Ao
chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque “alguma deves ter feito”
Ano 2008: Fazes uma asneira. O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te
desculpa e compra-te uma Playstation 3.

Situação: Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno.
Ano 1978: Não se passa nada.
Ano 2008: As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.

Situação: O fim das férias.
Ano 1978: Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana
puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, terminam as férias. No dia
seguinte vai-se trabalhar.
Ano 2008: Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam
as férias. As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborreia e
caganeira.

10 06 2008
João Guerreiro

É completamente absurdo haverem professores a trabalhar a “recibos verdes”, colegas por favor divulguem:

ABAIXO-ASSINADO

NÃO AOS RECIBOS VERDES NAS AEC’S

http://www.fne.pt/abaixoassinado

3 07 2008
sara rosa

Paulo li com muito interesse o seu artigo do concurso,eu que não sou professora,nem nada que se pareça,não consigo ver tal pograma,porque o (excesso) de sabedoria é tão grande que me sinto agoniada,coitada da menina da matemática nem saber o nome do estado novo,por acaso saberá ela o estado do que agora vivemos? duvido ,será realmente melhor comer um chocolatito talvez saia de lá alguma coisa para ficar a saber um pouco mais.

30 07 2008
mariaflor

Paulo sobre as criançinhas teria tanto para dizer mas guardo respeito ao meu caso familiar.Não são as crianças que teem culpa,todos nós quando nascemos somos animais pequeninos à espera não só que nos alimentem como nos indiquem o melhor caminho,mas para isso acontecer temos nós que ter esse caminho dado pelos nossos pais,ou tenham muitos estudos ou poucos,porque esta (carreira)que escolhemos de ser pais não à nenhuma escola ou faculdade,ou se sabe ser pais ou não,infelizmente tenho exemplos bem chegados,que se julgam excepsionais porque lá está, a criança tem só coisas de marca,ora que eu saiba, as crianças perceberam alguma coisa de moda,não.Outra coisa que ainda me aflige é que na escola está no quadro de honra e não liga afectivamente nada à sua familia,portanto aos paizinhos é que lhe está a dar a filoxera e não há insecticida que lhes valha ,fico horrorizada com os berros seja onde for,mas olhando-se para a cara dos pais está lá tudo,ponto final.

31 07 2008
pjrcarvalho70

É isso Maria Flor!
Só há criancinhas, porque há paizinhos!!!

Paulo Carvalho

16 10 2008
Isabel P Ramos

À laia de desabafo…

O Ministério da Educação, o Primeiro-Ministro, o Presidente da República e até os sindicatos não abrangeram a imensidão da posição dos professores em manifestação inédita.

Infelizmente continuam autistas. A segunda já está em marcha! Silenciosa, inexorável, dramática.

Aqueles que trabalharam toda uma vida com profissionalismo, dedicação e alegria estão neste momento unidos num mesmo sentimento de frustração total intolerável que os leva a abandonar, seja a que custo for, a profissão de que tanto gostavam.

Resta-nos o saudosismo do passado e a consolação de termos a certeza de ter tomado a única posição possível, digna da classe.

19 10 2008
Luís Brito

Olá Paulo Carvalho,
Queria antes de mais, dizer que concordo com quase tudo o que se diz neste blogue e que ainda bem que há alguém que se insurja contra a pouca vergonha que vai na educação.
Ja foram aqui foram abordados vários temas: a indisciplina na escola, a falta de condições, o carácter nómada desta classe profissional, a estupidez da ministra…etc…(aliás, todos eles tratados ironicamente e murdazmente, o que ressalta o irónico das situações…)
Queria aproveitar para acrescentar mais um: os danos e as privações que são causados aos familiares dos professores, principalmente dos filhos pequenos que quantas vezes têm de ouvir “agora não, que tenho de fazer uma planificação” , “depois, agora estou a fazer uma acta”
É caso para dizer, os professores para educarem os selvagens dos filhos dos outros têm de deixar de dar a atenção devida aos filhos.
Os dias só têm 24 horas (pelo menos os meus) e as indicações superiores mandam trabalhar os professores de uma maneira , que parece que conta mais fazer a “planificação” e a “acta” os dois monstros da burocracia na educação do que ensinar efectivamente os alunos.
Pois é……
Ser filho de professor é difícil ……
e os tempos que se aproximam não parecem ser melhores….

1 11 2008
Nostradamus

Escola

Comecei a ir à Escola
Quando era ainda criança
Lá fui com minha sacola
Cheia de sonhos e esperança

Nunca andei de triciclo
Fiz a Escola Primária
segundo e terceiro ciclo,
E depois a Universitária

Lembro-me do 25 de Abril
Passado à janela fechada
Como lobito em seu covil
Na minha Pátria amada

Estudei para Docente
Objectivo que me é sagrado
Era o sonho em minha mente
Como se fosse um “El Dourado”

Foi para mim grande vitória
Trabalhar na escola pública
Ensinar aptidões e a nossa história
E o conceito da Respública

O significado de Liberdade
E do direito de opinião
P’lo Saber e p´la Vontade
Para não ser mero peão

Para agora me afogar
Entre inutil papelada
Como bruxo no lagar
Numa morte anunciada

A alegria me foi roubada
Por insensiveis algozes
Minha Paz Perturbada
Por ignorancias atrozes.

Porque parece não chegar
Temos de ser facilitistas
Pois ser sério, pode levar
A que nos chamem masoquistas

O professor é como um escravo
Que deve o aluno “passar ao colo”
Por vezes agredido e maltratado
Que enorme desconsolo

Sabe até um inculto lavrador
Que de pequenino se torce o pepino
Mas não sabe o legislador
Que induz em erro o menino
A escola é local de passagem
Para os jovens desenvolver
E um lugar de aprendizagem
Para poderem na vida vencer

Agora ataram-nos os braços
Tiraram-nos o resto da autoridade
Aprisionaram nossos passos
E sentido da Responsabilidade.

E com a cultura desta “tropa”
Apesar do que se pinta
Estaremos na cauda da Europa
Seja dos quinze ou dos trinta.

19 – 02 – 2 008 Um Professor Desiludido

6 11 2008
Horácio Santos

Caros Professores

Dia 4 de Novembro de 2008 pelas 21h 40 terminava mais uma reunião de professores no ex Liceu Passos Manuel em Lisboa, situado numa zona problemática Bairro Alto – Bica – Santos.
Já não havia autocarros e as ruas quase desertas. Dois meliantes com uma arma branca tentaram assaltar uma colega nossa, que vinha da reuniao e que felizmente conseguiu fugir e pedir socorro numa casa comercial.
Sugiro que os professores do ensino diurno reinvindiquem que o seu horário de trabalho diário não possa ser superior a 10 horas – das 8h ás 18 horas. Não é pedir muito… Já em 1900 se faziam greves para que o horário de trabalho baixasse para 10 horas.
Os professores não podem ser vítimas da incapacidade das escolas em se organizarem.
O jovem Presidente do Conselho Executivo do Liceu Passos Manuel, que não tem muita experiência de ensino mas é familiar de José Sócrates, terá capacidade de organizar melhor a escola tal como consegue organizar o seu tempo para estar a fazer um doutoramento, enquanto com pulso de ferro intimida e humilha os professores da sua escola, fechado no seu gabinete.
A somar às bombas que rebentaram na escola, noticiadas na comunicação social e às cenas de pais a baterem em funcionários…. e à presença diária da polícia, ontem um delinquente anónimo vandaliza um livro de ponto e o Sr. Presidente abre um processo disciplinar contra um professor.
Afinal nós é que somos os delinquentes.

14 11 2008
teresa nery monteiro

Caro Paulo Carvalho,
Vai-me desculpar por lhe enviar uma msg neste quadro, mas não encontrei outra maneira de o fazer.

Divulgue por favor a Petição “Educação, para que te queremos?”

http://www.peticao.com.pt/debate-educacao

Muito obrigado

14 11 2008
pjrcarvalho70

Minha cara Teresa:
Não tem nada que pedir desculpa! Eu é que agradeço todas as contribuições em prol da nossa causa.
Já assinei e divulguei a petição no meu espaço.
Um abraço
PC

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